Os espectadores
Afonso Loureiro
Mesmo depois de quase um ano a viver neste hemisfério, ainda há coisas que não aceito como naturais. O ciclo das estações e o que esperar de cada época ainda precisa de tradução por parte de quem cá nasceu. Acredito piamente quando me dizem que ainda não choveu o suficiente ou que o cacimbo começou com duas semanas de atraso. Tudo me parece normal até me dizerem que não costuma ser assim.
Chuva de Verão
Em Luanda, a diferença entre o cacimbo e o Verão não é assim tão grande. Em meio ano pode chover, no outro meio não. Começo a reparar que as pessoas andam mais agasalhadas e de sapatos fechados, embora não compreenda bem a razão. Está sempre quente, mesmo de noite.
Está na altura de ir buscar agasalhos
Esta monotonia meteorológica é auxiliada por dias sempre iguais. Não há cá aqueles dias de Verão que se prolongam até às dez da noite. Às seis horas, Verão ou Inverno, o Sol pica o ponto e vai-se embora. Felizmente que não é como alguns angolanos e regressa no dia seguinte ao serviço.
Depois da chuvada
E a velocidade com que nos deixa também custa a acreditar. Um piscar de olhos e já se foi. O que me leva a questionar porque razão de vêem tantos quadros de pôr-do-Sol no mercado de arte. É um fenómeno que, ao contrário do que acontece em latitudes mais elevadas, dura apenas quatro minutos bem medidos. Será que o pintor tem tempo para conseguir pintar tudo no mesmo dia?
Os macacos
No entanto, mesmo com esta brevidade, não sou capaz de resistir a um pôr-do-Sol no Miradouro da Lua. E descobri que os humanos não têm o exclusivo no apreciar do pôr-do-Sol. Com um pouco de atenção, lá no meio das arribas fósseis, conseguimos ver outros convidados para o espectáculo. Um bando de macacos cinzentos escolhe lugar no anfiteatro. Depois aguardam.
No Miradouro da Lua
E, se olharmos para cima, podemos ver porque se chama a este sítio Miradouro da Lua. Ela também vem cá ver o pôr-do-Sol.
Espectadora atenta
É nestas alturas que compreendo porque razão o céu foi tão importante para a Humanidade. É pena que agora olhemos só para o chão.
Realmente muito bonito o pôr-do-sol
Parece-me que a solução não é olhar para o céu, e muito menos para o chão, mas sim para a frente, com esperança.
Caro Afonso:
Fotos bonitas e texto bom. Parabéns ao aerograma. Foi o Seguindoadiante quem me apresentou.
No momento, “estou a ler” bastante português de Portugal, até já me habituo com os acentos agudos em vez de circunflexo.
No velho papel, um autor que admiro: Gonçalo Tavares.
abraços,
de uma brasileira
Um pôr-do-sol magnifico, melhor só se fosse contigo…
Falta pouco!
Já senti frio no cacimbo. Mas não é caso pra andar com gola alta como já vi aí muitas pessoas heheheh.
Pôr do sol lindo! Os mais simples prazeres da vida!
Caro Afonso, permita-me que lhe dê mais uma razão para olhar para o céu.
Agora que o solstício de Junho se começa a aproximar, talvez já seja possível ver, claramente vista, a constelação da Ursa Maior no céu angolano! Embora seja uma constelação boreal e não austral, ela pode ser vista por esses lados, mais ou menos na direcção norte. Está bastante baixa no horizonte, é certo, mas é imediatamente identificável por quem a conheça do hemisfério norte.
Mais: com um pouco de esforço, é possível identificar também uma boa parte da Ursa Menor, já sobre a linha do horizonte! Como é evidente, a Estrela Polar não é visível, mas a partir da Ursa Maior é possível identificar a sua provável localização, abaixo do horizonte, seguindo o método habitual.
Se, de momento, ainda não for possível ver em Angola a Ursa Maior e/ou a Ursa Menor, espere mais um mês ou dois e poderá então vê-las.