A piada do herege
Afonso Loureiro
Apesar de agnóstico convicto, o que por si já é uma contradição das grandes, por vezes ponho-me a pensar no que é a religião e na necessidade que temos de acreditar em algo mais para além do que somos e sentimos.
Há quem diga que a magia da vida se resume ao facto de um dia acabar. Talvez por isso procuremos dar um significado ao que experimentamos e tenhamos a necessidade de acreditar que há algo mais, que este caminho não foi em vão. No fundo, não é o medo da morte, mas sim o medo da insignificância.
A religião deve ter nascido desta crise existencial, procurando respostas para o receio de não sermos assim tão especiais como nos julgamos. Acreditar que algo mais para além da morte existiria foi apenas um pequeno passo.
Se começarmos a analisar as várias religiões do mundo, percebemos que têm mais em comum do que os crentes de cada uma querem admitir. No fundo, são apenas versões e subdivisões de crenças mais antigas. O islamismo vai buscar muito ao cristianismo e ao judaísmo que, por sua vez, vão buscar muito ao hinduísmo ou outras religiões mais antigas. Até mesmo o sinal da cruz, com que os cristãos se benzem, pode ser comparado com a posição de alguns chakras hindu.
Crença comum a quase todas as religiões é a existência de vida após a morte. Umas dizem que a vida passa a ser imaterial, num qualquer paraíso ou inferno idealizado pelos teólogos.
Os que acreditam na roda da vida perceberam que não é necessário inventar infernos ou paraísos para castigar ou premiar os comportamentos tidos em vida, face à moralidade vigente. A qualquer momento podemos desejar ocupar o lugar de outrém ou de não invejar a sorte alheia. O inferno e o paraíso existem à nossa volta.
Se te portares mal, renasces para uma vida pior. Se te portares bem, subirás de escalão. Até é uma teoria interessante e evita ter de puxar demasiado pela imaginação ao tentar idealizar o que acontece depois da morte, que desconfio ser absolutamente nada.
Acreditando na reencarnação nos moldes do hinduísmo, podemos voltar à vida sob as mais variadas formas. Nesta vida sou gente, na próxima posso ser um jacaré angolano ou até mesmo uma pequena bactéria que nunca se afastará muito do charco onde surgiu. Se me portar mal, pode ser que regresse na forma de vírus da gripe… Será que a consciência que tenho agora se manifestará quando noutra forma? Será que os jacarés acreditam na vida depois da morte?
Todo este paleio foi desencadeado por ver um cão correr na praia, ou não fosse eu ir buscar inspiração aos sítios mais estranhos. O sol na moleirinha também é capaz de ter ajudado. O certo é que vi o cão a correr no refluxo das ondas e pensei que seria feliz.
Cão ledo no cabo Ledo
Mais tarde, ao ver as fotografias, reparei num pequeno pormenor que me intrigou. O cão não tocava com as patas no chão. Fiz umas piadas fáceis acerca do caminhar sobre as águas, o cão e o JC, que fez uma proeza semelhante lá para o Rio Jordão, mas depois pus-me a pensar nestas coisas da religião. Por momentos, a Roda da Vida não me pareceu uma ideia assim tão descabida. Usufruir da experiência de reencarnações anteriores até seria algo de interessante e a prova de que não estamos cá em vão e caminhamos todos para a perfeição.
Tão feliz que flutua
A piada herética que contei, deixo-a à vossa imaginação…
Primeiro que tudo, a montagem está um espectaculo!
Quanto à piada, era o cão do JC? Ou o JC reencarnou em cão? Tenho umas fotos na praia com os meus cães, para fazer uma BD Caseira, tá visto que já não posso usar esta piada…