Tiro no pé
Afonso Loureiro
Um velho ditado, que muita gente se esquece é o de que um bom nome leva anos a criar, mas pode-se destruir num instante. As aventuras financeiras angolanas são um excelente exemplo disso mesmo.
Desde que o petróleo voltou a preços normais que a crise afectou Angola de uma forma não antecipada pelos seus governantes. Ou então, os seus discursos orgulhosamente optimistas conseguiram-no esconder muito bem.
Na mudança de estação, depois de três meses sem o petróleo a valer rios de dinheiro, o Banco de Angola publicou uma série de notas instrutórias em que detalhava as regras para a exportação de divisas e aumentava os limites mínimos de solvabilidade dos bancos privados. Houve uma dança cambial durante duas semanas, com contornos pouco claros, que fez «desaparecer» reservas equivalentes a uns 2% do PIB brasileiro.
A principal repercussão destas novas regras, foi a recuperação de leis do tempo do Partido Único, limitando muito as quantias que se podem enviar para o estrangeiro. Todas as operações acima de determinado montante têm de ser aprovadas pelo banco central e os bancos não têm liquidez suficiente para as realizar atempadamente, uma vez que têm, eles mesmos, limites globais para as operações.
Algumas destas regras estavam já previstas na lei, mas a abundância que o petróleo caro trouxe e a inércia da burocracia envolvida provocaram uma aprovação tácita de quase todas as transferências. Não era preciso restringir remessas de divisas porque se fazia dinheiro mais depressa do que ele conseguia sair. A situação inverteu-se e, em meados de Abril, reestabeleceram-se os controlos.
Todo o estrangeiro que trabalha em Angola e quer enviar dinheiro para o país de origem atravessa agora um mar de dificuldades, porque tem de entregar justificações (que nunca são as mesmas), tem de esperar semanas pela execução da operação e, provavelmente, tem de ir ao banco saber o que se passa, perdendo um ou mais dias de trabalho.
Angola, nos últimos anos, tem tentado disfarçar a falta de seriedade com que leva estes assuntos financeiros, com o objectivo de limpar o nome e de deixar de ser considerado um dos países maus pagadores. Não tem tido grande sucesso, uma vez que nem os seus vizinhos lhe vendem um parafuso que seja sem pagamento adiantado.
As restrições às remessas para o exterior ou o controlo cambial, como lhe chamam, mostram que o seu sistema financeiro é gerido de forma quase amadora, não acautelando situações como a antecipada quebra do preço da sua principal fonte de receitas. Mas, de qualquer das formas, não se pode dizer que não estejam a tentar. E isso já poderia contribuir para melhorar um pouco a imagem, mesmo que seja à custa da retenção de salários dos trabalhadores estrangeiros ou limitando a importação de bens necessários (que são todos) porque não se pode pagar ao fornecedor (e ele não envia nada sem ver a cor do dinheiro).
Como dizia, o bom nome leva muito tempo a criar-se, mas dar cabo dele é um instantinho. Neste caso, temos o banco que impõe as restrições a desmentir que as haja, mas logo a seguir acrescenta que, afinal, talvez seja mais difícil.
O Porto de Luanda ainda não está vazio, porque tem muitos navios em lista de espera, mas se a situação continuar, daqui a umas semanas ninguém reconhecerá aquela baía vazia.
Pelos visto a crise também chegou a Angola, depois de uma verdadeira sangria no mercado de trabalho português, já se ouvem rumores de que muitas empresas estão a mandar embora os seus empregados de volta para Portugal. O pior disso tudo é que em Portugal não há trabalho para eles todos.
Forte abraço
….
Esclareceu-me algumas duvidas. Obgdo.
Complicado…