Apetecem-me cerejas
Afonso Loureiro
Uma das principais dificuldades que se enfrenta em Luanda é saber onde se pode comprar determinado produto ou serviço. As lojas, geralmente, não têm o que precisamos e os poucos técnicos que se encontram são, no melhor dos casos, meros curiosos. Isto não impede que as coisas se façam, porque, se as lojas não têm, concerteza haverá no mercado paralelo.
O mercado informal é capaz de suprir todas as necessidades da capital. Depressa se descobre que, com a notável excepção daquilo que procuramos, se pode encontrar absolutamente tudo, mesmo que absurdo, na cidade. Peixinhos dourados, roupeiros, uvas sul-africanas, balanças de casa-de-banho ou gravatas são visões frequentes nas ruas. Desconfio que os desejos das grávidas sejam mais fáceis de satisfazer em Luanda que numa qualquer capital europeia.
Na retunda
A grande questão não é saber que se pode comprar. O que distingue o profissional do amador, digamos, é saber onde comprar. No meio do aparente caos na distribuição do produtos e serviços, há um conjunto de regras implícitas que permitem facilitar a demanda do cliente. Assim, depois de sabermos o que precisamos, basta-nos ir ao bairro apropriado e procurar a pessoa certa.
Na falta de subsalentes
Lonas e capas para estofos de automóveis encontram-se entre a Sagrada Família, a Katyavala e o Kinaxixi. Quem tem problemas de esgotos, vai até ao Eixo Viário e procura os rapazes com as varetas de aço que se especializam em desentupimentos. Certidões ou documentos falsos para o carro arranjam-se ali para os lados do Palanca. Ananases de Benguela compram-se a caminho do Futungo, numa carrinha branca. Componentes electrónicos e cerejas, ainda não descobri, mas não perdi a esperança.
Tenho muitos dias que me apetece dançar com o meu dançarino ou passear ou partilhar pequenos momentos … mas não perdi a esperança. Falta menos um dia.
E eu aqui com uma taça delas bem boas à minha frente!
Palavra que era pessoa para te (posso tratar por tu atendendo a que caminho para cota?) levar uma cesta delas, quando daqui a uns quinze dias voltar a visitar Luanda.
É só para ficar ainda mais aguado!