Garoupa
Afonso Loureiro
Para recuperar de uma longa semana no gabinete, combinei com os colegas a ir experimentar outra comida para além da que habitualmente nos é servida nos restaurantes.
O choco grelhado no Futungo de Belas pareceu-nos a escolha lógica já que, sempre que lá passamos, o cheiro nos deixa com água na boca.
Choco grelhado, cozinheira e candongueiros
Aproveitámos e demos uma vista de olhos pelo mercado de arte. Estava cheio das peças que habitualmente imaginamos quando se fala de arte africana. Esculturas em madeira e chifre, pinturas, tecidos e cestaria.
Nas ruas só se vendem produtos feitos na china, frescos e bebidas. A maioria das mercadorias provém de lojas geridas por chineses, árabes ou libaneses, que compensam margens de lucro baixas com facturações elevadas. Não se vê artesanato africano. Parece um pouco estranho, mas a explicação é simples e demonstra capacidade de adaptação dos mecanismos legais às especificidades de uma economia paralela bem enraizada.
Para combater a falsificação, as peças de artesanato só podem sair do país se tiverem um selo de autenticidade colado. Sem selo, há a confiscação imediata da peça. Os selos numerados são atribuídos aos artesãos e custam 50 Kz. É uma quantia simbólica, que não encarece a peça. Isto implica o registo dos artesãos e um controlo sobre o número de peças exportadas. As peças sem selo destinam-se apenas ao mercado interno, que não é expressivo.
Estas limitações à exportação reduzem a produção e mantêm os preços elevados. Como a oferta é pequena, há apenas dois ou três mercados especializados em arte africana.
Associado ao mercado de arte do Futungo há muitas bancas a vender comida. São um pouco mais sofisticadas do que os sítios modestos onde almocei anteriormente. Propõem choco grelhado, espetadas de moelas ou peixes assados na brasa. O acompanhamento pode ser salada ou legumes cozidos. De entre as várias opções disponíveis, escolhemos uma garoupa para os três. Foi logo posta no grelhador. Mandaram-nos passar à sala de refeições, ali ao lado. No fundo era um quintal murado com umas chapas onduladas a proteger do sol. Segundo os padrões africanos era um sítio limpo.
Sobrava peixe para tão pouco prato
A garoupa estava magnífica. O peixe era muito fresco e saboroso. Podia estar um pouco mais assada, mas comemos bem e depois pagámos o preço acordado à entrada: 1500 Kz. Um pouco menos de 15 € por um peixe que custaria uns 30 € em Portugal – cru.
Depois da autópsia pouco sobrou
Voltei a reparar que as moscas africanas são particularmente educadas e só pousam na comida depois de se ter terminado…
A garoupa tinha muito bom aspecto. Ainda bem que a ASAE não chegou a Angola, não teria mãos a medir…
Interessante ver que as moscas Angolanas são mais civilizadas que as Portuguesas.