A festa do terraço
Afonso Loureiro
Há fins-de-semana em que o descanso se revela um pouco mais complicado que o desejado. O prelúdio da festa é uma Quinta-feira demasiado sossegada, quase como uma inspiração profunda para ganhar folêgo que chegue para o fim-de-semana que se avizinha.
Ao final da tarde de Sexta-feira começam a ouvir-se os primeiros testes às colunas, com os sucessos do momento. À medida que a noite avança, o volume vai subindo e os ritmos variando. O engarrafamento da hora de ponta que começou logo a seguir ao almoço é substituído por carros e motas que percorrem as avenidas a alta velocidade, ignorando peões, semáforos e cruzamentos. Quem tem o azar de dormir com janela para o lado errado, pode começar a fazer contas de dormir até mais tarde no dia seguinte ou de fazer umas sestas a meio da tarde.
No auge da festa, conseguimos ouvir a música vinda de dois ou três terraços nas redondezas, que geram uma cacofonia potente ao ponto de fazer estremecer as vidraças. Com sorte, não abusam dos baixos e não temos a sensação de que nos estão a fazer vibrar as entranhas também.
Um dos nossos amigos angolanos, reclama do barulho das festas lá no bairro. Trabalha de dia e estuda de noite. Quer dormir, mas não consegue. Hoje, eu também não, e pelas mesmas razões. Quando lhe perguntamos se não pode chamar a polícia, ri-se «Isto não é Portugal, Afonso!». «Só chamas a polícia por causa do barulho da festa quando não és convidado,» acrescentou logo o M. «se estás na festa, não te incomoda.»
E depois, fiquei a saber, chamar a polícia não é garantia de que a festa acabe. Quase sempre, os polícias ouvem o argumento de que está quase a terminar e, já agora, porque não levam uma ou duas grades de cerveja ou gasosa? Imagino já o negócio de alguns, correndo as festas mais animadas e coleccionando grades de cerveja enquanto esperam que o barulho acabe…
O programa desta noite incluíu uma hora dedicada exclusivamente a Michael Jackson, mais concretamente, das duas às três da manhã. Antes disso, misturas de Madonna com kizomba e muitos batuques electrónicos para abanar o esqueleto ou roçar corpos. Um concerto de rateres oferecido pelo vizinho atencioso do costume, com a sua adorável mota, fez parte do acompanhamento. A variedade musical foi diminuindo até às cinco, altura em que se ouviu um tiro. A festa acabou, vá-se lá saber porquê. Vou-me deitar.
Não terá confundido o som do tiro com o barulho do escape da mota a dar o berro? Eheheheh!!!
Boa noite.
Antes fosse… continua por cá a atazanar o bairro.