As três fases do emigrante
Afonso Loureiro
Na adaptação a uma cultura nova, todos passamos por três fases distintas. Refiro-me à emigração com estadias prolongadas num país desconhecido e não à ida de férias à Tailândia ou o passeio que se faz até Badajoz para comprar caramelos.
A primeira fase é a do Enamoramento, em que ainda estamos deslumbrados com a novidade. Tudo nos parece bom, bonito e agradável. Das coisas que não nos agradam não fazemos grande caso e julgamos que assim sejam apenas porque ainda não estamos suficientemente integrados. Repetimos mil vezes que não gostámos porque ainda não percebemos. Esta fase dura entre seis meses a um ano.
Depois vem a fase da Crítica, que começa quando achamos que o defeito não deve ser só nosso. Já nos adaptámos na medida do possível. A flexibilidade de cada um vai determinar muito quando se entra na segunda fase, mas basta saber que é a partir desta altura que as pequenas coisas a que nunca nos habituámos nos saturam de tal modo que nos fazem a vida mais difícil. Deixamos de falar tanto nas coisas boas e passamos a criar umas listas dos nossos ódios de estimação. A verdade é que se fala apenas destas porque são estas mesmo que nos dificultam a vida.
Será que é normal?
Se é arriscado pedir conselhos a quem está na primeira fase, por causa dos óculos cor-de-rosa com que se vê tudo, pedir conselhos a alguém na segunda é a melhor maneira de saber tudo quanto poderá ser impeditivo à adaptação. O quadro poderá parecer negro e as pessoas cheias de defeitos, mas é preciso perceber que são essas as coisas que vão tornar a vida difícil. Para as coisas boas não precisamos de sobreaviso!
A terceira fase é a da Integração, quando nos cansamos da constante arrelia que as coisas chatas nos trazem e deixamos de contabilizar as dificuldades que enfrentamos. Voltamos a perceber que o problema é mesmo só nosso. Temos de aceitar os defeitos tal como aceitámos as virtudes no início. Só assim se pode começar a compreender porque razão a cultura é diferente. Afinal de contas, se eles vivem sem se incomodar com aquelas pequenas coisas que nos mexem com o sistema nervoso, também o haveremos de conseguir. No fundo, repetimos para nós mesmos, as pessoas habituam-se a tudo.
As dificuldades voltam a surgir depois de muitos anos nesta fase, quando se julga estar completamente integrado, mas há alguém que nos relembra que somos estrangeiros. Há quem sofra este choque depois de uma vida inteira de integração. Será talvez uma desilusão, mas será aceite como mais uma coisa que faz parte da vida.
Muitas vezes me tenho sentido estrangeira no meu País. Pelos novos hábitos adquiridos. Mas não sou e às vezes preferia sê-lo.
Até.
Acho que não chego à terceira fase…