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12  08 2009

Navegando noutras águas

Um grande dilema da vida em Luanda é o de como ocupar os tempos livres. Para além do trabalho, como passar o tempo? É certo que a Ilha do Cabo promete divertimento, mas, como nunca fui muito de discotecas ou bares, a vida nocturna de Luanda diz-me tanto como a da Mongólia ou outro sítio qualquer. Aliás, para discotecas, basta-me as festas de terraço que não me deixam dormir.

Mesmo no trabalho, há alturas em que a rotina se torna difícil de suportar e nos sentimos a ficar estúpidos. É preciso exercitar o cérebro, sob pena de emperrar de vez. Precisava de encontrar uma actividade que me fizesse pensar a sério e que me fizesse sentir que aprendia algo de verdadeiramente novo.

Ora, como estou em Angola, resolvi aprender… Japonês!

Num mar de letras
Navegando nas palavras

Utilidade prática, para já, não lhe antevejo nenhuma, além de perceber um pouco o que se diz nos filmes lá da terra do Sol Nascente. Será que todo o conhecimento tem de ter uma aplicação prática imediata? Pelo menos não ocupa lugar, como diz o provérbio. Mesmo assim, espero que tire mais partido do japonês que do amárico aprendido há uma década…

O facto de ser uma coisa completamente diferente prometia ser um bom exercício. A verdade é que aprendo muito mais acerca da minha própria língua do que esperava e suspeito que passe a pronunciar a ementa dos restaurantes japoneses com muito mais convicção.

Por outro lado, o tempo que se perde no trânsito deixou de ser desaproveitado. Meia-hora de engarrafamento corresponde a uma unidade inteira de conversação. Chega mesmo a ser aborrecido ter semanas em que a viagem dura vinte e cinco minutos para cada lado e estou sempre a repetir a mesma lição…

Ao fim de oito meses de dedicação, estou a aproximar-se do fim do curso. Começo a perceber e dizer coisas mais complicadas. Posso afirmar, com alguma confiança, que já não me sentiria completamente desamparado se me largassem no meio do Japão.

Já dizia Goethe que aprender uma outra língua é ver nascer uma alma nova. Subscrevo sem reservas. É espantoso o mundo que se abre de repente, quando partilhamos os pensamentos de outros povos. As particularidades de cada língua moldam os mecanismos mentais das pessoas e perceber a língua é o primeiro passo para as compreender melhor.

O próximo passo é, seguramente, aprender a ler alguma coisa. Mas os japoneses, que gostam de complicar, acharam que a língua falada não era suficientemente difícil e resolveram usar três alfabetos. Um, muito bonito, não usam para quase nada, mas tem de se saber. Outro, é usado para palavras estrangeiras e letreiros (útil, portanto). E depois, quando querem realmente escrever qualquer coisa, voltam-se para os ideogramas… pesadelo!

Para já, vou aprendendo Hiragana, o tal bonito e inútil…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Navegando noutras águas”

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  1. Ao menos ja tens experiencia em escrever com gatafunhos!

  2. Agora tenho desculpa, digo que é Japonês.

  3. Kanji é que é!!!

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