Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

09 2009

Dopplerfest de Luanda

O austríaco Christian Doppler, famosíssimo físico, descreveu matematicamente as variações de frequência introduzidas pelos movimentos relativos da fonte e do observador. No fundo, explicou aquilo que muita gente já sabia, um louco aos gritos assusta muito mais a correr em nossa direcção do que a fugir de nós.

Actualmente, os exemplos mais usados são o som produzido por sirenes de ambulâncias ou buzinas de combóios, que se movem depressa e todos reconhecem. A prova de que a fama do Dr. Doppler é merecida, é que , na altura, não havia sirenes de ambulâncias e nos combóios pouco mais havia que alguém a gritar para que saíssem da frente. Inventou a solução antes do problema, dirão alguns; era um cientista atento, reclamarão outros.

Graças a ele, hoje percebemos porque razão os sons se tornam mais graves ou agudos à medida que a distância da fonte aos nossos ouvidos varia.

Em homenagem a tão insigne personagem, Luanda oferece a cada jovem que passa o exame para obter a licença de ciclomotor, um manual prático que descreve como aplicar o efeito Doppler no dia-a-dia. É um folheto singelo, com apenas duas regras. A primeira diz que se deve aplicar a buzina apenas em duas situações: por tudo e por nada. A segunda regra explica que, em caso de dúvida, buzina-se. Depois tece algumas considerações sobre o melhor modo de aplicar o polegar sobre o interruptor da buzina, variados modos de buzinar, como o stacatto, o toque contínuo ou o aparente aleatório. Termina com avisos de segurança que procuram evitar tendinites indesejadas ou calos nos dedos.

Kasucuta
Cada vez mais agudo, cada vez mais irritante

Desta forma, Luanda organiza um Dopplerfest permanente, onde se partilha o melhor que se faz em Angola nesta quase arte, com milhares de ciclomotores, motociclos e peidociclos a circular serpenteado entre os carros com os seus condutores alegremente buzinando como se não houvesse amanhã. Chega a ser bonito ouvir a buzina a aproximar-se e ficar mais aguda e depois, em coro com o escape roto, afastar-se cada vez mais grave. PeeeEEEEEIIIIIIIIIIUUUUUUUUUuuuuuuuooooooooo… E que brilhantes sorrisos! Doppler ficaria orgulhoso.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Dopplerfest de Luanda”

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  1. Estou a gostar das lições de Física e de como ela se torna trivial assim exemplificada!

  2. Luanda é um laboratório excepcional!

  3. Há mais dois motivos para usar a buzina: porque fazer barulho é giro, e porque quanto mais melhor… 😀

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