O metropolitano de Luanda
Afonso Loureiro
Ainda é um segredo bem guardado, mas Luanda está prestes a inaugurar a sua primeira linha de metropolitano que, suspeito, irá ligar o Aeroporto 4 de Fevereiro à Mutamba. Uma das primeiras estações deverá surgir mesmo em frente à Administração Municipal da Maianga.
Há cerca de um ano, as obras na Rua da Administração começaram. Durante alguns dias cortavam o trânsito para, aparentemente, encher os buracos maiores com entulho. O trânsito voltava a circular por mais umas semanas, até que as crateras fossem de novo tão fundas que assustassem os candongueiros mais afoitos.
A certa altura, com a desculpa de que era necessário fazer passeios para os peões, o trânsito na rua foi condicionado por cerca de três meses. Nalguns troços tiveram o cuidado de desfazer os passeios em betão armado existentes e fazer uns novos, na mesma posição, com as mesmas dimensões e, imagine-se, também de betão armado.
Passeios antigos desfeitos
Depois de se fazer os passeios, mas não as valetas, cortou-se a rua por mais quatro meses para instalar um novo sistema de esgotos pluviais e domésticos. Esventrou-se a rua, meteram-se as condutas, fechou-se o buraco e… nada. A rua ficou assim por semanas, com os carros a contornar as caixas de visita inacabadas. À medida que os atrelados dos semi-reboques foram partindo as guardas, começaram a ser cada vez mais frequentes os carros que ficavam presos nos buracos. Como paliativo, instalavam umas fitas brancas e vermelhas à volta de cada buraco. No dia seguinte já estavam todas no chão, deitadas abaixo nalguma mbaia.
Um azarado
A situação foi-se arrastando até que as obras recomeçaram. A primeira coisa a fazer era limpar o lixo que se tinha acumulado nos novos esgotos ainda por estrear. Ao longo de uma semana, três operários retiraram pedaços de conduta, terra e lama, bocados de carros, pneus, sacos com lixo, cães mortos e um sem-fim de coisas indiscritíveis. Concluíram que o sistema estava de tal maneira deteriorado que havia de se refazer.
Nos quatro meses seguintes, abriram-se as valas, partiram-se as condutas novas, puseram-se as novíssimas e fecharam-se as valas. No entretanto, com tanta escavação e movimento de máquinas, os passeios feitos meio ano antes desapareceram sem deixar rasto algum.
A única justificação que me ocorre para uma obra assim é a instalação de um metropolitano subterrâneo, como há em quase todas as grandes capitais. Obras assim complexas e demoradas, vi-as na Avenida Duque de Ávila, que fecharam por dois anos, para o prolongamento da linha vermelha do metropolitano de Lisboa. Deve estar para breve o anúncio oficial.
Caro Afonso,
Muito boa noite.
Mais uma vez, cá estou para lhe dar os parabéns pela
excelência do seu blogue. Muito me tenho divertido
com as histórias que tem contado sobre a minha terra
natal, que é Luanda, de onde como sabe, saí com 3 meses
de idade, em Junho de 1975.
Tenho pena que Angola, terra onde os meus pais foram
verdadeiramente felizes, tenha chegado a um ponto
um cidadão tem que ter uma uma tolerância e uma
paciência fora do normal. Enfim, aspectos menos bonitos
de um país tropical. Apesar de eu adorar climas tropicais,
confesso que dá que pensar se vale a pena trocar este
nosso Portugal, apesar de todos os problemas relacionados
com o desemprego, miséria crescente, descrença nos
políticos e nas pessoas, por uma Angola, onde falta água
e luz, onde uma refeição custa os olhos da cara, onde
a segurança é o que se sabe, onde a diferença entre ricos
e pobres é inacreditável…
Espero que a situação mude com a maior brevidade possível,
caso contrário, o Afonso ainda irá escrever um artigo
sobre uma experiência do outro mundo com um buraco numa
estrada qualquer de Luanda…
Um abraço a todos os leitores deste blogue sensacional.
Aceite uma saudação tropical de Portugal e desejo-lhe um
óptimo fim-de-semana.