Isso é Angola…
Afonso Loureiro
A expressão que mais custa ouvir nesta terra é o encolher de ombros vocalizado «Isso é Angola…». Serve de desculpa para tudo, desde as falhas associadas a um país com as infra-estruturas degradadas ou em estado embrionário, até às inerentes ao comodismo ou preguiça de cada um.
Com o elevador avariado, o contrapeso foi roubado
É a outra face do excesso de orgulho e falta de brio com que se consegue caracterizar os angolanos. Têm muito orgulho na sua terra e no seu país, com as riquezas enterradas e potenciais agrícola e turístico enormes, mas não há nenhum sentimento de frustração por não se explorar os motivos de orgulho.
Falta de higiene num «restaurante»
Da mesma maneira que alguns encolhem os ombros ao ver alguém despejar lixo fora do sítio, outros partem garrafas na praia com um imenso sorriso e exclamam «Isso é Angola!». A pouco e pouco, o sentimento generalizado é que Angola é assim e não há volta a dar. Não pode evoluir para não perder essa genuidade definida nas três palavrinhas de Isso é Angola.
Depois de três décadas de guerra, com as dificuldades a serem enfrentadas e resolvidas individualmente por ser impossível pensar nos outros, todos se habituaram a não exigir condições. Se falta a electricidade, há que comprar um gerador porque Isso é Angola e não há volta a dar. Se falta a água, investe-se num depósito porque ninguém espera que a água corrente seja um serviço básico universal.
Alguns serviços básicos desapareceram
Nos jornais lê-se que os angolanos não podem tolerar que os filhos do novo presidente da Zâmbia, no poder há menos de um ano, já estejam milionários. Não questionam quem são os mais ricos de Angola nem a sua relação com o poder. Afinal de contas, é Angola.
Enquanto isso, uns ganham a vida vendendo no chão
Criticar os defeitos alheios e branquear os nossos é um pecadilho frequente. Não estou esquecido da promiscuidade entre poderes públicos e empresas privadas que grassa lá no hemisfério Norte, mas essa é uma história para outra altura. Espero que os portugueses se indignem tanto da sua situação como os angolanos da dos zambianos.
Para sobreviver, tudo se faz
Isso é Angola não é só um desabafo, é sinal de desistência. É sinal de falta de esperança no futuro. Diz-nos que a guerra ainda não acabou, pelo menos a nível psicológico. Ninguém precisa de se preocupar com nada, o brio profissional é algo quase desconhecido e tudo continuará como dantes. Isso é Angola. Antes assim que pior.
Entendo muito procedente essa diferenciação que você tem proposto, entre o brio e o orgulho angolanos. Falta de uns e excesso de outros. Fosse ao contrário, a história seria bem outra.
Não me parece que seja muito diferente aqui…já começo a perder a conta às vezes que já ouvi a expressão desanimada: “Só em Portugal….”
Em vez de o tentar mudar de alguma forma, as pessoas acomodam-se e preferem gastar o seu tempo a imaginar como será nos outros países…
Há uns dias que venho lendo alguns dos seus posts.
Tenho um imenso fascinio por Africa e até tenho procurado uma oportunidade de emprego para aí.
A minha área é a Financeira (sou TOC) e ja respondi a alguns anuncios de recrutamento para Angola.
O fascinio por conhecer Africa, (que não é possivel em apenas uma ou duas semanas dos pacotes de viagens das agencias de viagens) e também a remuneração atractiva que ainda vai sendo oferecida.
Relativamente ao transito, não sei em que área vivia quem em Portugal, mas eu resido na zona de Sintra (Mem Martins) e se calhar devo relembrar que temos um IC 19 que apenas melhorou há uns tempos com a passagem para 3 vias. mas apenas até ao Cacém.. daí para a frente tá na mesma! 2a circular… nem se fala.
Quanto à pobreza, bom não é a mesma coisa que aí. mas cada vez mais se vê reportagens na televisão, acerca de pessoas da classe média desempregadas que vão no seu automovel buscar alimentos ao banco alimentar… pobreza e fome envergonhada!
Vou continuar a seguir o seu blogue e provavelmente começar a comentar mais vezes. afinal um blogue também serve para isso…
Toda a vida vivi em Queluz, por isso sei bem como é o trânsito do IC19, e garanto que o de Luanda não tem comparação. Aliás, até tenho um artigo acerca de um luandense que tinha saudades do trânsito do IC19 e segunda Circular.
Curiosamente ontem ouvi um jornalista usar uma expressão bastante curiosa:
“Á grande é á Angolona…”
Não dúvido que Angola seja grande, mas por outro lado é tão pequenina em alguns pormenores.
Nunca aí estive mas por vezes leio a edição on-line do angonoticias e digo: é exactamente a impressão que fico de Angola quando o leio.
Está um excelente post Afonso, aliás como vem sendo normal.
Mais uma vez, parabéns pelo blog.
Rf
Também vivi na linha de Sintra grande parte da minha vida, e sei como é/era “passar” a IC 19 em hora de ponta mas nada se compara à loucura de Luanda, para me fazer entender, no dia em que cheguei a Angola ás 7.40 da manhã, demorámos nada mais nada menos que 3.20 h do aeroporto até Sambizanga, percurso que se faría(sem a quantidade de carros, cadongueiros que circulam por aqui)em 20/30 m no máximo. A pobreza sim existe mas penso que o que mais custa perceber é discrepancia económica entre uns e outros e não me refiro apenas a pretos e brancos, entre os nacionais é bem patente essas nesnas diferenças, já para não falar em racisno.
Obrigado
Encontro-me em Luanda por um curto periodo de tempo e a melhor forma de me preparar para a estadia foi descobrir e ler o seu blog.
Desde que cá cheguei que tenho comprovado praticamente todas as situações que leio nos seus artigos. Com uns amigos expatriados de outros países africanos, dizemos: TIA: This is Angola.
O potencial existe, mas não se desenvolve por si só mas ás vezes é isso que eles esperam…sentados à porta de casa.
A guerra não pode servir de explicação e desculpa para tudo.
Abc e obrigado
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Prezado Autor, tenho 48 anos e trabalho com Gerenciamento de Projetos em Cooperação Técnica Internacional.Por muitas décadas ,nós brasileiros,temos convivido com o mesmo ditado com respeito ao Brasil(ISSO É BRASIL).No nosso país,viioentamente atacado pelo câncer da corrupção,em todos os níveis,temo procurado reverter essa situação com muito trabalho e qualificação profissional,esperando que as próximas três décadas sejam responsáveis pelo desaparecimento das velhas raposas da currupção e que a juventude que renasce,dentro de uma filosofia mais ética de vida, possa ,definitivamente nos fazer virar a página desse duro período, e seguirmos crencendo como nação e cidadãos.
Aproxima-se o dia em que estarei em Angola.Pretendo me estabelecer nesse belo país,para não só desfrutar das suas belezas,mas para por em prática tudo aquilo que aprendi durante a minha vida profissional.Tenho esse compromisso com os meus antepassados.Angola tem saída.O jovem angolano precisa ter esperança.Essa é a palavra chave.A possibilidade real de ascensão social é que transforma um homem num cidadão.Lutarei uma nova guerra por essa causa em Angola.