Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

30  11 2009

Promessas e táxis

Já há muito que deixei de acreditar nos anúncios oficiais e nas medidas milagrosas que todos os políticos prometem face a problemas de difícil resolução. Esta incredulidade vai-se ganhando a cada ciclo eleitoral, a cada nova obra grandiosa com cartazes a dizer «Agora é que é!» ou a cada medida de incentivo à economia que nem no papel parece ser boa ideia.

Candongueiro «Sentem + essa»
Mais uma promessa

Por vezes, os grandes desígnios nacionais parecem-nos um pouco desorientados, ao contrário de outros, que apontam no caminho certo. TGV a ligar todas as capitais de distrito é tão absurdo como aeroportos milionários construídos de raiz ao invés de requalificar os já existentes. TGV a ligar Portugal à Europa Central, por outro lado, é uma opção estratégica que ganhará destaque à medida que as crises do petróleo e a necessidade da redução de emissões de gases poluentes tornarem os outros meios de transporte mais desvantajosos.

Candongueiro «Tudo natural»
Transportes amigos do ambiente

Em Angola, por exemplo, a reconstrução das vias de comunicação, barragens, pontes e redes de águas e esgotos reforçam os alicerces do que se há-de construir a seguir. São passos imprescindíveis para que se possa pensar no resto. A organização do CAN 2010 será um grande motivo de orgulho para a nação angolana e tenho a certeza de que a competição correrá bem. No entanto, desviou recursos importantes de outras áreas que todos reconhecem como prioritárias. Para além disso, veio agravar problemas que já se sabiam difíceis.

Candongueiro «XL»
Pensar em grande

Em situação normal é muito difícil conseguir um quarto de hotel nas principais cidades. Quando se consegue, é por preços que no resto do mundo se considerariam exorbitantes, mesmo para hotéis de categoria muito superior. O acolhimento dos visitantes que chegam para assistir aos jogos de futebol, mesmo com os hotéis que se vão conseguir terminar nas vésperas da abertura da competição, vai ser dificílimo.

Candongueiro «Deus no céu bicho na terra»
As condições de transporte não são as melhores

A inexistência de transportes públicos seguros e de confiança é outro grande problema, para o qual resta muito pouco tempo para ser resolvido. O eufemismo que se aplica às carrinhas azuis e brancas dos candongueiros não irá convencer ninguém que se tratam de táxis. Aliás, ao fazerem percursos fixos e cobrarem um preço por viagem, nem sequer fazem o serviço de táxi. Em Luanda, Os números oficiais para o número de carrinhas de transporte de passageiros irregulares é de cerca de 30’000, às quais se acrescentam mais 4’000 em situação legal. São os grandes responsáveis pelo caos que é o trânsito na cidade, mas não estão sozinhos.

Candongueiro «Privado»
Táxis privados, por enquanto só estes

A chegada de um cada vez maior número de automóveis às ruas da capital, quase todos importados usados e depositados no Porto de Luanda, agrava o trânsito de tal forma que os percursos mais curtos demoram horas. E, a certas alturas do dia, uma boa estimativa para se atravessar certas zonas é de meia-hora por quarteirão, se não se quiser estacionar, claro.

Candongueiro «Será qui é ele»
Há sempre esperança

É aqui que entram as promessas. Aquelas de que aprendemos a desconfiar, mesmo quando aparecem em letra de imprensa.

Candongueiro «Só Acreidito em Deus»
O que os angolanos pensam das promessas

As agências de notícias difundem as soluções avançadas para os problemas do trânsito e dos táxis, que se vai proibir a entrada de candongueiros no centro da capital porque vão ser substituídos pela nova frota de táxis de quatro passageiros que vai entrar em circulação logo no princípio do ano. Prometem menos de centena e meia de táxis. Prometem que será suficiente. Antevejo uma crise de absentismo a inaugurar 2010.

Candongueiro «Tudo tem fim»
A caminho do centro   

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Promessas e táxis”

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  1. Eu nem me quero imaginar aí em Janeiro!!!!!! Se o caos já era o que era mais vale hibernar quem tem que trabalhar. E assim me desvio de comentar o nonsense que é num pais como esse, à míngua de tanta infra-estrutura que resolvesse problemas prementes de prioridade inquestionável, com a histeria do Can 2010. Mais vale eu zipar e nem abrir mais o bico.

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