O mundo ao contrário
Afonso Loureiro
Cresci com Verões secos e Invernos molhados. Esta é a minha noção da ordem natural das coisas.
Mesmo sabendo que chove na mesma altura pelo mundo todo, ainda me faz uma certa confusão ter as grandes chuvas na estação quente. Por muitas vezes que explique a mim mesmo que tudo isto tem uma razão de ser e que a culpa é a inclinação do eixo de rotação da Terra, a Primavera a terminar em Dezembro e Invernos sem chuva não me parecem naturais. Durante uma vida inteira fui-me mentalizando que o final do ano significa chuva, frio e castanhas assadas. Agora dou por mim a terminar o ano com chuva, praia e mangas maduras. Ainda por cima não gosto de mangas.
A perfeita monotonia da duração dos dias da zona intertropical contrasta com os dias curtos do Inverno temperado, dos quais não sinto muita falta, e com os longos dias de Verão, que associo sempre às brincadeiras de criança na rua. Novamente, o culpado é a inclinação do planeta, embora não me sirva de consolo.
Lua de pernas para o ar, talvez em crescente
Novamente por causa dessa famosa inclinação, a Lua voltou a ser um mistério. As mnemónicas que sempre funcionaram em criança tornaram-se inúteis. Em vez de um C ou de um D, a Lua passou a ser uma ferradura voltada para baixo ou para cima, que só a custo identifico com um quarto crescente ou minguante. Mais a sul voltaria a não ter dúvidas, mas aqui, perto do equador, é difícil ter a certeza.
Ainda acho um pouco desconcertante ouvir as cigarras, que sempre associei aos dias secos e quentes do Verão, a cantar logo a seguir a uma chuva que só pela água quente se distingue dos temporais de Inverno. As águas de Março a fechar o Verão podem fazer todo o sentido para o hemisfério Sul, mas, para além de fazerem uma excelente canção, são a coisa mais surreal que conheço.
Parece-me que o mundo está ao contrário, porque temos tendência em usr o nosso corpo como referencial, mas a verdade é que o mundo está no mesmo sítio e eu é que mudei de hemisfério.
Foto soberba!
Nas voltas do mundo nós somos só os peões com sorte suficiente para “ser” e “estar”. A vantagem de acumularmos experiências e vivências diferentes daquelas que tinhamos como certas é a de alargarmos horizontes. Quando tudo é vivido de forma igual perde-se o Natal na nossa vida. Há que saber saborear tudo devagar com o gosto de um rebuçado a dissolver na boca sem o trincar. A chuva de verão tem a magia de nos fazer descobrir o prazer de passear com ela e sentir o cheiro da terra quente molhada. Nas circunstâncias actuais nessa cidade perderam-se os “sabores” e os “encantos” mas eles andem aí e eu que associo o verão a cerejas maduras tenho as mangas à minha espera e tenho mais sorte, porque gosto de uma manga bem madura trincada no recato do lar a escorrer sumo para as mãos.
Fica uma castanha quentinha a estalar na mão e que em breve possa aqui comprar muitas dúzias para se regalar.
As saudades de tudo, aí engordam que parece que nem cabem em nós, né? Mas o sabor do regresso acompanha e fortifica tanto mais quanto as saudades que avolumam. E enquanto a lua cresce e decresce ele fica mais proximo.
Uma lua que sorri…
Faz-me lembrar algo… um beijo, as estrelas como companheiras e assim começou…
Beijo especial!
A foto me fez lembrar do sorriso do gato de Alice. Enigmático.
A lua é linda,embora diferente, o pôr do sol é soberdo mas apesar de tal beleza, vem a saudade do frio de Inverno, de passar o Natal à lareira( ainda o ano passado foi assim), do “cheiro” das castanhas a crepitar no lume, dos fritos tradicionais( vou tentar fazer aqui),este ano vamos passar a época festiva no calor de Luanda….
Mas tal como diz a Maré, uma nova e enriquecedora experiência.