Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

18  12 2009

Artesãos

O mercado de arte de Benfica e a loja da baixa não são os únicos locais onde se vende artesanato africano em Luanda. Há uma espécie de extensão do mercado na Ilha do Cabo, com preços devidamente inflaccionados e uma ou outra banca com estatuetas e pinturas espalhadas nos clubes e hotéis frequentados por expatriados.

Há, no entanto, locais menos conhecidos para adquirir peças interessantes. Nas traseiras do mercado de São Paulo, no meio de casebres rodeados de lixo, há um desses locais escondios.

No meio da lama empilham-se grandes troncos de madeiras tropicais. Um ou outro homem, com a ajuda de machados ou catanas vai transformando estes blocos em pedaços mais pequenos, próximos do tamanho das peças acabadas.

Artesão
Esculpindo um batuque

Meia dúzia de homens sentam-se em círculos e vão aprimorando as formas toscas que o machado deu à madeira. As ferramentas têm todas um aspecto artesanal, mas também o de algo que evoluiu ao longo das gerações até atingir a perfeição para a função desejada. O verdadeiro significado da função definir a forma que as escolas de arquitectura alemãs defendem.

Neste pequeno quintal lamacento produzem-se peças para todas as clientelas. A um canto, por cima de pedaços de madeira de peças danificadas ou inacabadas e sanitas partidas, amontoam-se os batuques, tambores esculpidos numa única peça de madeira, com pele de animal não curtida esticada e presa com pequenas cavilhas de madeira. Destinam-se principalmente aos turistas. Há grandes e pequenos, para todas as bolsas e gostos.

Artesão com enxó
Talhando o pau do pilão

Do outro lado esculpem-se almofarizes e pilões, tábuas para lavar a roupa, bancos, maços de madeira para a carne e pau de funge ou outros apetrechos usados no dia-a-dia.

Artesão dando forma à peça
Esculpindo o interior do pilão

Quem mora na zona chama aos artesãos que ali labutam de ciganos, por razões que ainda não compreendi, nem me conseguiram explicar. O certo é que é mais um sítio interessante para visitar, não pelas vistas, mas pelas gentes.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Artesãos”

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  1. Muitas vezes esses artefactos são vendidos por “tuta e meia” sem nos apercebemos da quantidade de trabalho que os levaram ao seu estado final.

  2. Conheço esse local, fica perto da nossa casa, mas nunca me passou pela cabeça que havia artesãos ali a trabalhar nas traseiras do mercado de São Paulo!
    Durante a próxima semana, aproveitando uns dias de descanso do meu marido, vou lá “cuscar” e depois dou noticias.
    Quanto à paisagem da zona, realmente não é a mais bonita…lixo e mais lixo, esgotos a céu aberto(se podemos chamar aquilo, esgotos!!!)….

  3. O que mais devia ser motivo de orgulho e brio e que me apaixona verdadeiramente, é muito mal aproveitado e muito pouco reconhecido. Há arte no seu fabrico mais puro que brota das mãos calejadas e robustas de muitos homens e mulheres que vão aprimorando técnicas sem outras ajudas que não as manuais e o valor de algumas peças é desprestigiado com novas introduções no mercado de outras que servem os mesmos fins e mesmo que custem 5 vezes mais, são essas que têm maior procura. O orgulho dos angolanos deveria estender-se mais às raízes. Talvez tenham que olhar mais atentos para os imbondeiros para perceberem que sem elas não se atingiria o porte e a força que dele emanam.
    Na minha última estadia fiquei espantada com um pensador que estava numa banca de artesanato na estrada da Ilha e que era maior que eu. Aqui está uma das coisas que ainda me falta explorar e espero futuramente ter oportunidade para procurar mais artesanato local. Já apontei para ver ao vivo e a cores. Gracias!

  4. Ao ver estas imformações fico muito saudoso a relembrar as vezes de que estava a passar pelo são paulo ali , e ver varias cousas de que me deixaram muita saudades.Sou baiano daqui de Salvador e estive a trabalhar na feira dai da FILDA por 9 meses e adorei as pessoas dai bem como os contrates da sua pessoas e cultura (chaleno kiambote!!) Se vou voltar um dia?(n’zambi uegia) abraços pra vcs.

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