Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

30  12 2009

Sol de Inverno

Certas coisas ganham um valor desmedido quando nos vemos privados delas. Talvez seja por isso que se mede o que custam certos passos não pelo que podem proporcionar, mas pelo que se abdicou para os dar.

Desde que me lembro de existir, que acho o Sol de Inverno nas costas, especialmente quando sentado na soleira da porta do quintal, uma das sensações mais agradáveis da vida.

O regresso a casa pelo Natal permite matar as saudades das pessoas e dos lugares, mas não pensamos ser capaz de matar saudades de memórias e sensações.

Dei por mim no quintal, com o cão a atirar-se contra as minhas pernas e o Sol a aquecer-me as costas, a sentir que o tempo tinha parado na minha infância. Por momentos, o mundo voltou a ser pequenino e cheio de mistérios. Fechei os olhos e fiquei um bocadinho a apreciar a sensação. Sentei-me na soleira, de frente para o limoeiro e puxei o rafeiro para o colo. Apeteceu-me ficar ali o resto do dia.

São realmente as coisas mais pequenas que definem o lugar a que pertencemos.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Sol de Inverno”

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  1. Isso é uma pura verdade.
    É curioso. No post que já tenho preparado para publicar no próximo dia 1 de janeiro, chego a conclusão semelhante.
    As privações que passei nas Terras do Fim do Mundo, douravam as ninharias que constituíam os pequenos bons momentos do nosso dia-a-dia.
    Ainda hoje recordo com certa saudade a maior parte desses prazeres que, fora dali, não seriam mais do que episódios sem importância.

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