Sol de Inverno
Afonso Loureiro
Certas coisas ganham um valor desmedido quando nos vemos privados delas. Talvez seja por isso que se mede o que custam certos passos não pelo que podem proporcionar, mas pelo que se abdicou para os dar.
Desde que me lembro de existir, que acho o Sol de Inverno nas costas, especialmente quando sentado na soleira da porta do quintal, uma das sensações mais agradáveis da vida.
O regresso a casa pelo Natal permite matar as saudades das pessoas e dos lugares, mas não pensamos ser capaz de matar saudades de memórias e sensações.
Dei por mim no quintal, com o cão a atirar-se contra as minhas pernas e o Sol a aquecer-me as costas, a sentir que o tempo tinha parado na minha infância. Por momentos, o mundo voltou a ser pequenino e cheio de mistérios. Fechei os olhos e fiquei um bocadinho a apreciar a sensação. Sentei-me na soleira, de frente para o limoeiro e puxei o rafeiro para o colo. Apeteceu-me ficar ali o resto do dia.
São realmente as coisas mais pequenas que definem o lugar a que pertencemos.
Isso é uma pura verdade.
É curioso. No post que já tenho preparado para publicar no próximo dia 1 de janeiro, chego a conclusão semelhante.
As privações que passei nas Terras do Fim do Mundo, douravam as ninharias que constituíam os pequenos bons momentos do nosso dia-a-dia.
Ainda hoje recordo com certa saudade a maior parte desses prazeres que, fora dali, não seriam mais do que episódios sem importância.