Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

11  01 2010

O atentado

Os jogadores do Togo são recebidos a tiro. Alguns são atingidos. A FLEC diz que o alvo era a escolta. A escolta diz que não esperava ser atacada, mas respondeu. Tiros, muito tiros cruzaram os céus de Cabinda. Dois mortos e muitos feridos. Para já.

A FLEC reinvindica, o Governo desmente e acusa os vizinhos congoleses, porque em Cabinda não há guerra. Os congoleses de Luanda olham por cima do ombro. Os congoleses do Congo nem fazem caso da acusação. Se a acusação fosse séria, já haveria tropa angolana a caminho da fronteira congolesa.

Durante todo o dia, a estação de televisão pública emite programas promocionais do CAN «De Cabinda ao Cunene», reportagens acerca das condições de alojamento das selecções, comentários acerca da beleza dos estádios e verdura da relva. Em Cabinda ainda há desaparecidos.

Notícias, só nas cadeias televisivas estrangeiras. Sabemos que vão ser acusadas de só falar no CAN quando há desgraça e sangue, que antes não falavam só para não dizer bem de Angola. Especialmente as televisões europeias que têm selecções apuradas para o Campeonato do Mundo daqui a uns meses e para as quais o Campeonato Africano diz tanto como o Asiático.

As selecções que chegam desejam fazer parte das que vão disputar jogos «Do Zaire ao Cunene», porque Cabinda assusta. Os jogadores do Togo sabem-no. Talvez desistam de participar, adiantam alguns menos confiantes das capacidades da equipa da casa. Desistiram mesmo.

O CAN está a trazer Angola para a boca do mundo. Mas talvez não seja pelas melhores razões.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “O atentado”

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  1. Só c colonialismo portuga é que se lembrava de criar um país de “Cabinda ao Cunene”.

    Mas se lermos a história colonial com atenção, podia ter ficado de São Tomé ao Cunene.

    Assim como assim já se tinha inventado um mais incrível que vai do amazonas ao rio da prata.

  2. A “pesada herança do colonialismo” não explica tudo.

  3. Caros amigos, devo-lhes dizer que apezar de pecularidades do governo dos Santos, seria muito pior se a provincia separasse de Angola. O povo simples, bem como na Ucrania de hoje, espera gozar a boa vida vendendo concessoes a empresas petroliferas de todo o mundo. Ninguem quer perceber que a independencia vai levar Cabinda a uma guerra cruel entre a burguesia local. O povo ganhara’ nada melhor do que ja tem.

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