O atentado
Afonso Loureiro
Os jogadores do Togo são recebidos a tiro. Alguns são atingidos. A FLEC diz que o alvo era a escolta. A escolta diz que não esperava ser atacada, mas respondeu. Tiros, muito tiros cruzaram os céus de Cabinda. Dois mortos e muitos feridos. Para já.
A FLEC reinvindica, o Governo desmente e acusa os vizinhos congoleses, porque em Cabinda não há guerra. Os congoleses de Luanda olham por cima do ombro. Os congoleses do Congo nem fazem caso da acusação. Se a acusação fosse séria, já haveria tropa angolana a caminho da fronteira congolesa.
Durante todo o dia, a estação de televisão pública emite programas promocionais do CAN «De Cabinda ao Cunene», reportagens acerca das condições de alojamento das selecções, comentários acerca da beleza dos estádios e verdura da relva. Em Cabinda ainda há desaparecidos.
Notícias, só nas cadeias televisivas estrangeiras. Sabemos que vão ser acusadas de só falar no CAN quando há desgraça e sangue, que antes não falavam só para não dizer bem de Angola. Especialmente as televisões europeias que têm selecções apuradas para o Campeonato do Mundo daqui a uns meses e para as quais o Campeonato Africano diz tanto como o Asiático.
As selecções que chegam desejam fazer parte das que vão disputar jogos «Do Zaire ao Cunene», porque Cabinda assusta. Os jogadores do Togo sabem-no. Talvez desistam de participar, adiantam alguns menos confiantes das capacidades da equipa da casa. Desistiram mesmo.
O CAN está a trazer Angola para a boca do mundo. Mas talvez não seja pelas melhores razões.
Só c colonialismo portuga é que se lembrava de criar um país de “Cabinda ao Cunene”.
Mas se lermos a história colonial com atenção, podia ter ficado de São Tomé ao Cunene.
Assim como assim já se tinha inventado um mais incrível que vai do amazonas ao rio da prata.
A “pesada herança do colonialismo” não explica tudo.
Caros amigos, devo-lhes dizer que apezar de pecularidades do governo dos Santos, seria muito pior se a provincia separasse de Angola. O povo simples, bem como na Ucrania de hoje, espera gozar a boa vida vendendo concessoes a empresas petroliferas de todo o mundo. Ninguem quer perceber que a independencia vai levar Cabinda a uma guerra cruel entre a burguesia local. O povo ganhara’ nada melhor do que ja tem.