Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

24  01 2010

Barba para dentro ou barba para fora?

N’«O caranguejo das tenazes de ouro» perguntam ao capitão Haddock se vai dormir com a barba para dentro ou para fora do lençol, apenas para lhe causar insónias. A coisa resulta tão bem que o pobre Haddock passa a noite a experimentar ambas as opções e nenhuma lhe parece confortável. Em Luanda tenho o mesmo dilema. Não que tenha deixado crescer uma farta barba ou até que durma tapado, mas nunca me decido sobre qual posição dormir.

Normalmente, prefiro dormir de lado. Sempre dormi assim e não me parecia haver razões para mudar. Há uns anos preferia deitar-me para o lado esquerdo, talvez por ter a cama a um canto do quarto, mas, depois de partir um punho, tornou-se mais confortável fazê-lo para o lado direito. A diferença não era muita e não demorei a habituar-me. Depois conheci o Verão Austral e fiquei sem saber quais são as posições confortáveis para dormir. Já é suficientemente mau passar o dia inteiro com suor a escorrer pela testa ou debaixo de ar condicionado, quanto mais dormir assim.

Nas noites em que o ar se cola à pele e só nos apetece tomar banhos consecutivos, não há posições agradáveis. Deito-me na posição que me é confortável e descubro, segundos depois, que uma perna sobre a outra me faz calor, que um braço atravessado no peito me faz calor, que tudo me faz calor. O suor escorre-me pelas costas e pela cara. Sinto a pele pegajosa. Volto a almofada ao contrário, para ver se está mais fresca. Não está. Volto-me para o outro lado. Mais uns segundos e estou a escorrer suor outra vez. Deito-me de costas. Fico mais fresco, mas a almofada parece que está a arder. Viro-me de barriga, com os braços e pernas bem afastados para expôr mais pele. Atiro a almofada para longe. Fico mais fresco, mas é desconfortável. Resigno-me e tento dormir.

Da próxima vez que acordar, com uma qualquer buzina ou escape ruidoso, voltarei a enfrentar o mesmo dilema. O que vale é que não tenho barbas…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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