Se não os vences, dá-lhes tolerância
Afonso Loureiro
Tirando os geradores e o alarme do banco na esquina, apenas o som abafado do relato nos rádios dos seguranças enche as ruas. Circulam os autocarros por obrigação. De resto, nem carros nem motas. Os peões reduzem-se a umas poucas mulheres de passo lento ou estrangeiros na sua corrida diária pela marginal. Acordei com o calor, mas confesso que dormi uma das sestas mais sossegadas de que tenho memória em Luanda.
A calma que agora reina contrasta com a febre dos últimos dias, em que todos se apoquentavam com o futuro da selecção nacional no campeonato de futebol. O jogo entre a Argélia e Angola prometia ser tão crucial que era o centro de todas as conversas. A hora do jogo é que não deixava ninguém sossegado. Às cinco horas é quando se sai do trabalho e quem mora longe chega a casa já depois do jogo acabar.
Preparados para a vitória
Antevendo um êxodo maciço dos trabalhadores logo a seguir ao almoço, ou a invasão de todos os serviços por televisões e rádios que perturbariam o trabalho todo o dia, a Governadora resolveu não contrariar a vontade do povo e decretou tolerância de ponto em toda a província de Luanda para que se fosse ver o jogo. Foi o melhor que fez. A partir do meio-dia a debandada começou. A hora de ponta foi mais curta mas mais intensa que o habitual, mas os condutores sorriam, cheios de calor por causa dos cachecóis e bandeiras.
A caminho de casa
O final do jogo estava a ser tão interessante que fui dar com o R. a dormir em frente à televisão. Acabou empatado, mas serviu os propósitos de ambas as equipas. Lá fora ouvem-se uns tímidos «Ganhámos», mas o que se sente é um imenso suspiro de alívio por não terem perdido.
Deixe uma resposta
Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.