Época das queimadas
Afonso Loureiro
Durante a estação seca, as planícies angolanas estão cobertas de capim seco, intercalado por uma ou outra mancha verde perto dos cursos de água. O Verão traz a chuva que faz germinar em poucos dias as sementes do ano anterior. Quem julga que o capim angolano é semelhante à erva dos lameiros terá uma surpresa. Consoante a quantidade de água, o capim cresce entre dois a três metros, formando barreiras quase impenetráveis. Ao longo das estradas que, meses antes tinham um horizonte longínquo, ergue-se um muro verde de cada lado.
O capim era usado para a construção de casas e telhados, mas tem vindo a ser substituído pelas chapas onduladas, menos adaptadas ao clima tropical, mas implicam muito menos trabalho. Não é usado como forragem, por isso agora apenas preenche a paisagem.
Um pouco por todo o país, com o aproximar do Cacimbo os camponeses começam a pensar em maneiras rápidas de preparar os campos. As lavras novas têm de ser conquistadas às matas e as velhas foram engolidas pelo capim que cresceu durante o Verão. A desmatação e as queimadas são função dos homens. As mulheres virão depois para o cultivo.
Assim que as chuvas começam a rarear, o horizonte enche-se de colunas de fumo. Cada uma marca uma queimada, que é o processo mais expedito para limpar os terrenos. Enquanto o capim ainda está verde as queimadas são mais ou menos controláveis e à noite as chamas acabam por esmorecer. Alguns fogos duram vários dias e queimam grandes áreas, mas as queimadas fazem parte de uma tradição que vem sendo passada de geração em geração há séculos.
Por esta época, na província é fácil saber onde ficam as povoações mais remotas. Mesmo que não apareçam nos mapas, haverá uma coluna de fumo a indicar as lavras.
Lavras na Barragem das Mabubas
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