Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

15  04 2010

O abacateiro e a grávida

A Mãe Mónica tinha um abacateiro frondoso no quintal. Aquela sombra grande que se abanava nos dias de Verão era o seu orgulho. Começou por ser uma árvore pequenina, plantada por alturas da Dipanda, quando a família procurou a segurança lá no São Paulo de Luanda. A árvore foi crescendo até que os ramos passaram os muros do quintal e passaram a oferecer abacates a quem passava na rua.

Um dia notou que as folhas estavam menos viçosas e que os ramos começavam ficar despidos. Chegada a altura dos abacates, os poucos que medraram eram amargos e pequenos. A árvore foi adoecendo e secando até que morreu no ano seguinte. Foi um desgosto.

“A culpa”, defende a Mãe Mónica, “é de alguma grávida que me apanhou um abacate lá na rua!”

Segundo a tradição dos Quimbundo, as mulheres grávidas estão proibidas de apanhar os frutos das árvores porque as secam. A vida da árvore é passada para o filho que têm no ventre, numa curiosa associação dos mistérios da vida e da morte.

Flor seca
Flor de embondeiro

Feitiços, feiticeiros e encantamentos fazem parte da vida em Angola e por isso não há razão para duvidar deste toque mortal das mulheres grávidas, tal como noutras partes do mundo a superstição dita que o sal não deva passar de mão em mão ou que os gatos pretos dão azar.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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