O abacateiro e a grávida
Afonso Loureiro
A Mãe Mónica tinha um abacateiro frondoso no quintal. Aquela sombra grande que se abanava nos dias de Verão era o seu orgulho. Começou por ser uma árvore pequenina, plantada por alturas da Dipanda, quando a família procurou a segurança lá no São Paulo de Luanda. A árvore foi crescendo até que os ramos passaram os muros do quintal e passaram a oferecer abacates a quem passava na rua.
Um dia notou que as folhas estavam menos viçosas e que os ramos começavam ficar despidos. Chegada a altura dos abacates, os poucos que medraram eram amargos e pequenos. A árvore foi adoecendo e secando até que morreu no ano seguinte. Foi um desgosto.
“A culpa”, defende a Mãe Mónica, “é de alguma grávida que me apanhou um abacate lá na rua!”
Segundo a tradição dos Quimbundo, as mulheres grávidas estão proibidas de apanhar os frutos das árvores porque as secam. A vida da árvore é passada para o filho que têm no ventre, numa curiosa associação dos mistérios da vida e da morte.
Flor de embondeiro
Feitiços, feiticeiros e encantamentos fazem parte da vida em Angola e por isso não há razão para duvidar deste toque mortal das mulheres grávidas, tal como noutras partes do mundo a superstição dita que o sal não deva passar de mão em mão ou que os gatos pretos dão azar.
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