Antigos combatentes
Afonso Loureiro
Os antigos combatentes são um fardo para todos os governos. Tiveram o seu préstimo durante a guerra, mas assim que se atinge a paz tornam-se uma sombra incómoda. São a prova viva de que a guerra não é só um pedaço da História, e que marca as pessoas no corpo e na mente.
Os soldados portugueses que combateram no Ultramar foram ostensivamente esquecidos, como se fossem culpados de defender o regime anterior. Limitaram-se a cumprir o seu juramento e servir a Pátria conforme lhes foi ordenado. Ser retornado era mau, ter sido soldado em África era pior e falar nos antigos combatentes tornou-se tabu.
As injustiças prolongaram-se por mais de três décadas, com os mutilados de guerra e os que viram as suas vidas interrompidas a exigir a compensação devida. Depois, timidamente, ofereceu-se-lhes um complemento de reforma, à laia de esmola, que muitos recusaram ou encaminharam para instituições de solidariedade.
Angola tem o mesmo problema, mas agravado pela proximidade temporal da guerra e pelo maior número de homens afectados. Foram úteis até 2002, mas depois de nada serviam. A sua grande maioria nunca fez mais nada que não lutar, pelo que o seu contributo para a sociedade terminou com a assinatura dos acordos de paz. Foram amados quando eram carne para canhão, mas agora querem-nos longe da vista. Sentem-se usados e abandonados. Exigem que o seu sacrifício seja reconhecido e recompensado com subsídios, casas e empregos.
Existe o Ministério dos Antigos Combatentes, que se preocupa muito com as condições em que vivem, mas que aparenta não fazer muito para os dignificar. São reservados terrenos em cada município para que os antigos combatentes e guerrilheiros construam as suas casas, quase sempre longe dos centros urbanos, mas não são apoiados no que realmente lhes faz falta. Continuarão sem saúde e sem emprego que lhes permita comprar os materiais para construir as casas.
Recordações destas querem-se longe e se durarem pouco tempo, tanto melhor. Os antigos combatentes são mais fáceis de recordar nas pedras de um monumento do que quando andam de cadeira de rodas entre os carros a pedir esmola.
As civilizações também se medem pela forma como tratam quem por elas luta.
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