Oliveira da Figueira
Afonso Loureiro
Oliveira da Figueira é uma personagem memorável das aventuras de Tintin. É o comerciante nato, que consegue vender as coisas mais inusitadas a quem com ele se cruza. Em Luanda ainda não me cruzei com ele mas, a avaliar pelo que se vê vender nas ruas, sinto que o seu espírito está presente.
Pronto-a-vestir
Lembro-me dele sempre que vejo um vendedor de gravatas a passear pelo meio dos carros, esticando a mercadoria para os pescoços dos condutores e fazendo-os ver-se ao espelho para confirmar que aquela cor liga muito bem com o casaco. Felizmente que a maioria das pessoas não se deixa ir em cantigas, porque já têm o banco de trás ocupado com peixinhos dourados, um par de halteres e um colchão insuflável azul e branco adquiridos no cruzamento anterior.
Vendedora de soutiens
Os vendedores dos cruzamentos de Luanda são persistentes. Mesmo após as primeiras recusas continuam a demonstrar que a sua mercadoria é claramente superior à da concorrência e, ainda por cima, tem um preço mais acessível. Vendem óculos de sol a quem já os tem, nem que seja porque se pode fazer colecção de autênticos Ray-ban com lentes de vidro totalmente originais pela módica quantia de 1’000 Kz ou outra oferta justa que o comprador queira fazer. Vendem latas de quilo de sangacho de atum ou de salada de frutas em calda com o mesmo sorriso com que vendem tapetes felpudos com pandas desenhados. Vendem latas de inseticida e copos de cerveja em dias alternados. Vendem mobílias, pastas, desodorizantes, pão e sapatos. Pelo meio andam os ardinas e os reis do disco pirata.
Vende-se tudo
Só estou à espera de ver um par de esquis à venda para ter a certeza de que o Oliveira da Figueira passou por aqui.
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