Regresso às aulas
Afonso Loureiro
Há umas semanas algumas zungueiras deixaram de vender fruta. No alguidar passaram a trazer os livros escolares de venda proibida mas que acabam sempre por vir parar ao mercado paralelo por portas travessas.
Um pouco por todo a cidade as ruas começaram a encher-se de batas brancas. As últimas chuvas de Verão marcam o fim das férias dos estudantes angolanos. Nalgumas esquinas apercebemo-nos que há reencontros de amigos do ano escolar anterior pela maneira cúmplice como contam os episódios que lhes sucederam nos últimos meses e o que receberam no Natal.
Na escola aprende-se ortografia e civismo
Os mais novos andam em grandes grupos, talvez para não se perderem. De longe parece que cresceram pernas às mochilas, tal é a desproporção em relação aos corpos destes pequenitos.
Ao fim do dia há mais correrias e sorrisos. As batas usam-se com menos esmero e algumas são enfiadas num rodilho nas mochilas. Como em todo o lado, o regresso a casa é o momento mais esperado do dia de escola.
Também quando andei na escola primária dos Coqueiros o recomeço do novo ano lectivo era sempre depois do natal.
Também em Março havia um longo período de férias por ser o mês de mais calor do ano, não sei se se mantém.
Afonso, Vítor e demais… (quanta modéstia!!)
Sim, o início das aulas era um entusiasmo. O cheiro a livros e cadernos novos, tudo novinho em folha e a caixa de lápis de cor. Essa era a contemplação do limbo…
Mas o final do ano era o delírio absoluto. Depois dos exames escritos e orais, em todos os anos da escola primária… dos coqueiros, claro, era a correria desenfreada pela rua abaixo. A primeira paragem fazía-se no muro do clube de ténis e os praticantes atiravam bolas, rede acima, que apanhávamos em êxtase. Depois mais animação até à fábrica Mission. Pois, aí lá se bebiam as famosas mission maçã e as coca-colas. À borla, claro, porque tínhamos passado de ano e merecíamos. Seguiam-se os cumprimentos familiares e amigos. Agora pasmem-se! O nosso querido vizinho, o Sr Mascarenhas, influente que só ele, oferecia a visita do “carro do fumo”. Era o carro que espalhava pelas ruas de Luanda o DDT para se fazer a desinfestação dos insectos. Não se via nada na rua, apenas uma densa nuvem branca. E nós miúdos ríamos e gritávamos quando chocávamos com os amigos. Era a loucura total!!!
Há um grave problema de analfabetismo no Brasil. Vide nosso presidente. Mas Angola, pelo que vejo nos blogs de expatriados, é muito pior. Muitas vezes a destreza exigida para cometer os erros que eles cometem é maior do que a necessária para acertar. Alguém pode explicar?
RECTIFICAÇÃO
Caro Afonso
Só para rectificar a data MAI/OUT de 1973 .
Obrigado
Carlos Trindade