Quedas de Calandula
Afonso Loureiro
Pouco conhecidas e menos visitadas, as Quedas de Calandula são as segundas maiores de África, perdendo o primeiro lugar para as Quedas Vitória por uma mão-cheia de metros.
No tempo colonial chamavam-se Duque de Bragança, em homenagem à dinastia que governava Portugal à data da sua descoberta pelos europeus. Após a independência angolana, tanto as quedas como a povoação mais próxima mudaram de nome para Calandula.
Duque de Kalandula
Chega-se lá a partir da estrada de Malange, tomando o caminho para Calandula na povoação de Lombe. Cerca de cinquenta quilómetros depois, percorridos numa estrada quase toda reabilitada, as quedas surgem no horizonte, quebrando o verde das matas que tinha vindo a encher a paisagem desde há uns minutos. Antes disso, uma savana com muito capim e algumas árvores emprestavam um ar de deserto verde ao mundo.
O salto
A estrada para Calandula sofreu uma correcção de traçado mesmo à entrada da povoação, descrevendo agora uma curva larga em torno da avenida com árvores perfiladas que marcava a chegada a Duque de Bragança.
Avenida antiga
À saída da povoação toma-se o desvio para o miradouro. São cinco quilómetros de estrada nova, com bermas e sinalização a fazer inveja a muita rua da capital. Com os acessos reabilitados há cada vez mais gente a visitar as quedas e, se não se chegar cedo, pode ser difícil encontrar lugar para estacionar.
Memórias
A fama das quedas vem de longe. Nos arenitos de cor férrea por onde vai escorrendo o Rio Lucala antes de saltar para o abismo muita gente deixou a sua marca, quase garantindo a imortalidade. Gerações passadas faziam-no raspando nomes e datas na pedra, hoje em dia fazem-no com tinta, manchando a paisagem. Com o cada vez maior número de chineses a trabalhar em Angola não é de admirar que se encontrem também muitos ideogramas gravados nas rochas.
Quedas de água
Não há fotografias ou descrições que façam jus às quedas. Por muito que se queira, a grandiosidade do sítio não cabe nas lentes das câmaras ou nas palavras. O Rio Lucala corre devagar por entre as pedras já arredondadas pelos muitos séculos de erosão e deixa-se cair, em silêncio, para o fundo do vale.
Rio Lucala
As descrições que se fazem das Quedas Vitória insistem no constante ribombar da água, mas aqui o silêncio talvez seja o mais marcante. Ficamos com a sensação de que as quedas são tão grandes que já nem o som nos chega.
Pousada das Quedas Duque de Bragança
Do outro lado do vale estão as ruínas da Pousada a contemplar as quedas. São marcas de outros tempos.
Lindo….desde da descrição…às fotos! Obrigada!
Em tempos idos passei uma noite naquela pousada.
Uma beleza… acredito que que visto ao vivo e a cores ainda seja mais bonito.
Fica a reportagem fotográfica que me deixa uma enorme vontade de conhcer.
Obrigado por continuares a partilhar as belezas escondidas de Angola.
Obrigado por mais um post espetacular!
Abraço
JR
Muito lindo. Privilégio para poucos.
O melhor local para admirar as quedas era lá em baixo, a jusante, mesmo em frente a elas. Sentíamo-nos muito pequenininhos, diante de tão grande prodígio da natureza.
Houve um filme italiano, rodado ainda no tempo colonial, que tinha muitos disparates (mas também lindíssimas mulheres kuvales/mucubais), que foi onde encontrei até hoje a melhor descrição do que se sente diante das quedas. O filme chamava-se, em italiano, “Riusciranno i nostri eroi a ritrovare l’amico misteriosamente scomparso in Africa?” (conseguirão os nossos heróis encontrar o amigo misteriosamente desaparecido em África?), mas em Portugal passou com o título “Um Italiano em Angola”. O realizador foi Ettore Scola. Apesar dos disparates, o filme fazia justiça a Angola e aos angolanos.
Nesse filme, a dada altura, via-se o nosso herói diante das quedas, lá em baixo. Era mostrada a cara dele em muito grande plano, estática como se estivesse hipnotizada, e com uns óculos escuros espelhados, em cujas lentes se viam as quedas refletidas. De repente, uma lágrima escorria pela cara dele abaixo.
Eu penso que outro filme chamado “Capitão Singrid” também tinha imagens das quedas, além de várias imagens de Luanda.
Belas imagens de um extraordinário local. O meu obrigado.
Aproveito para referir, que o habitual asserção do tipo “no tempo colonial chamavam-se Duque de Bragança”, não corresponde à realidade histórica, pois a dominação colonial ainda que estendendo-se ao longo de séculos, só recentemente -com a gradual ocupação do território-, foi impondo novos nomes estrangeiros (portugueses) em substituição dos legítimos tradicionais. Recentemente isto foi mais patente, quando o fascismo colonial português, renomeou por exemplo: Uige para Carmona e Ndala Tando para Salazar.
Este erro não é diferente, daquele que leva a que actualmente se substituam merecidos nomes em português -sem qualquer conotação negativa- de vilas ou cidades, que anteriormente pura e simplesmente não existiam, por outros sem justificação, só por superficialidade nacionalista.
Esta é uma mera e ligeira apreciação a propósito, que em princípio terá a discordância de gregos e troianos.
Américo Brandão 20-03-2010
A questão da toponímia é sempre complicada. Mas neste caso, o nome europeu dado às quedas seguia a linha do pensamento colonial vigente na época por todas as nações. As Quedas Vitória, Leopoldville e Rodésia são alguns exemplos.
Sem palabras, maravilloso!!!!!! Em directo seguro que impresionante.
Alguien falo par ami que havia uma pousada que estaba a funcionar perto das quedas. Por favor, alquien me poderia enviar o nº de telefone. Muito Obrigado
A pousada perto das quedas fechou após a independência. São as ruínas que se avistam do outro lado do rio.
Aquela foto com o titulo de ‘o salto’ está espectacular. Já passei por lá 2 vezes e ainda não consegui perceber de que sitio foi tirada…
A fotografia foi tirada da estrada, a alguns quilómetros de Calandula.
Estive em Salazar de 1967 a 1969,fazia parte do PAD 1245.Fui várias vezes a este local que é espectacular.Cheguei a estar ao fundo das quedas em cima de uma enorme pedra.Apesar de tudo,tempos maravilhosos.QUE SAUDADES.
A unica coisa que digo é que é um sítio lindíssimo. Foi lá que eu nasci, cresci e me casei. Onde ainda nasceram 2 dos meus filhos. Tantas saudades ao ver estas fotos…..
O caro Afonso Loureiro tem razão, os nomes originais gentilicos podiam ser mudados, não fazia sentido continuar a chamar Salazar àquela cidade, mas houve mudanças sem sentido. Afinal os Portugueses e não os Tugas, deram a Angola um indice de desenvolvimento que só muitos anos depois voltará. E seguramente a cooperação com os portugueses será sempre mais vantajosa para Angola. No terreno, seremos sempre melhores que russos, chineses ou outros que apenas querem, como sempre, sacar as riquezas naturais, não é esse o espírito Português.Nunca foi.Mas…
a propósito das Quedas, em 1971, fiz com os meus soldados 800 km no mesmo dia para ir visitar as QUEDAS. É pena se calhar elas não estarem aproveitadas turisticamente, como parece pela situação da tal Pousada……Uma maravilgha!!!
Infelizmente, a estrada para a Pousada está interrompida há anos.
Jacinto N.Costa.
Deixe-me que o trate como amigo,uma vez que gosta tanto de Angola como eu.Quanto ás Quedas duque de bragança,sâo das coisas mais bonitas que Angola tem.Como vivia em Salazar forom algumas vezes lá fui a passeio com a minha familia.É pena que o tempo nâo volte para traz,os meus quase 80 já nâo dâo para eu voltar.
Há muitas maneiras de viajar, e a memória, às vezes, costuma ser mais compensadora que regressar a sítios marcantes.
Desde que regressei a Angola, 33 anos depois de ter saído com meses de idade, que estranho o facto dos angolanos conhecerem tão pouco do seu país. Contingências de uma guerra longa, falta de equipamentos turísticos, acessos complicados, saída de Luanda por terra muito demorada devido ao trânsito, etc, talvez sejam algumas explicações. A verdade é que Angola só o é fora de Luanda. É aí que sinto África. Há tanto por fazer para devolver estes paraísos ao Mundo. Pena é que haja tanta desconfiança para com os estrangeiros que de boa vontade ajudariam a recuperar o potencial desta terra.
Cheguei ao seu blog porque estou precisamente a planear uma visita a calandula para amanhã. Obrigado pelas dicas
Terra maravilhosa em pequenina vivia em Cacuso e aos fins de semana iamos fazer piqueniques nas quedas de kalandula ou nas pedras negras. Tenho muitas recordaçoes e essas fotos estao lindas pelo menos servem para matar saudades. Mãe Africa o nosso berço.
Sei exatamente o local ou o sítio da estrada onde você tirou essa foto. Passava eu e o meu pai de ford cortina numa bela tarde angolana, quando gritei; pai pára o carro, e estive bastante tempo a contempla-las desse local. Não cheguei a premenores de conhecimento dessas quedas, mas valeu um português apreciador de maravilhas africanas para ceder-me algumas informações obrigado.
O que diria o meu pai se estivesse entre nós? sei lá!
penso eu.
Ao fim de 37 anos neste meu Pais vou finalmente conhecer esta beleza natural. Agora ja existe de novo Pousada (nao sei se a mesma) e se nao houver lugar sempre se pode fazer campismo! Se estiver bom dia para fotos depois coloco, se for possivel