Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

18  03 2010

O negócio da morte

Os negócios em Luanda desenvolvem-se em pólos onde a experiência dos artesãos e a existência de matérias-primas em quantidade e qualidade suficientes se aliam para criar verdadeiras corporações. Certas actividades concentram-se em determinados bairros, com ofícios repetidos porta-sim, porta-sim. As agências funerárias e as marcenarias são dois bons exemplos.

Apesar da clientela garantida pela ordem natural das coisas, as agências funerárias não dispensam a publicidade, embora os anúncios nas fachadas sejam um pouco menos coloridos que os das outras lojas, condizendo com o ar reservado que os cangalheiros devem apresentar. Descobri, no entanto, que os funerais na capital são mais complexos do que parecem.

Agência funerária
Agência funerária

Os óbitos africanos são diferentes dos europeus. Segundo me explicaram, apesar da tristeza de se ver um ente querido partir, é também um momento de celebração, porque as amarguras da vida terminaram.

Um óbito sai muito caro à família do falecido. Para além das despesas do funeral, há que providenciar comida, bebida e dormida para familiares e amigos ao longo de vários dias. Quem não der do bom e do melhor aos convidados está a desonrar o morto.

Agência funerária
Agência funerária

Aliando a necessidade de honrar o morto à de poupar dinheiro para a comida e a bebida, as agências funerárias começaram a alugar catafalcos e decorações para os velórios, que se continuam a fazer em casa. É mais uma vertente do negócio.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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