Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

17  06 2008

Kwanzas

Hoje almocei na Panela de Barro e paguei com 100 dólares. Apesar de o Governo Angolano querer acabar com os pagamentos em moeda estrangeira, os dólares ainda são a moeda com M grande. Recebi o troco em Kwanzas, naturalmente.


Fauna local

As notas de Kwanza (corre o boato de que também há moedas, mas eu nunca vi nenhuma) são estupidamente compridas. Têm as proporções das notas de monopólio (inspiradas nas notas de dólar). Uma das faces tem sempre o Zédu atrás do Agostinho Neto a garantir a certeza da vitória. Na outra os temas vão variando. Até agora, nas notas que vi, e dependendo da época em que foram desenhadas, há paisagens e actividades tradicionais (nas mais recentes) e expoentes da indústria e desenvolvimento nacional (nas mais antigas).


O progresso

No entanto, têm aquele aspecto desenhado que tinham as notas de escudo e que se perdeu com a estilização das notas de euro.


dos Santos e Neto

Entretanto pude apreciar com mais atenção o fenómeno que são os vendedores de rua, que vão dando um passo a cada lado entre os carros enquanto seguram na mercadoria. Vendem de tudo. Desde ferros de engomar até carrinhos de bebé, passando por rebuçados Circo (já não os via há que tempos) e mobílias por catálogo. A sério, todos os dias nas traseiras do LEA está um senhor a segurar um catálogo com mobílias. Perto do restaurante vendem geleiras, tábuas de engomar, cabides, mesas e até cadeiras de acrílico. Fruta vende-se por todo o lado. Bem vistas as coisas, escolhendo bem a rota para casa, consegue-se comprar tudo o que se precisa.


Óculos escuros, pilhas, saboneteiras…


Reparação de fogões a 30 metros…


Vassouras, cestos, garrafas e mandioca

Também tive a oportunidade de ver alguns pormenores que caíram em desuso lá na metrópole, como a publicidade pintada nas fachadas dos prédios altos.


Será que ainda se vende disto?


Os hortícolas têm sempre melhor aspecto na rua que no supermercado. E estão mais arrumados.

Hoje regressámos a casa um pouco mais tarde. Apareceram alguns problemas ao final da tarde que tiveram de ser resolvidos e viemos mesmo ao lusco-fusco (que aqui demora uns poéticos 2 segundos). O trânsito a qualquer hora é infernal, mas à noite ainda parece pior. Os candongueiros, cheios de pressa de terminar o dia, andam mais afoitos, o que nunca é bom sinal.

Antes de subir, fomos comprar pão. Nunca pensei que se pudesse comprar broa de milho e pão de Mafra em Luanda… Caro como tudo, mas saboroso.

À espera de poder atravessar, ficámos numa esquina a olhar para o trânsito. Todos os candongueiros que passavam abriam a janela e gritavam “Aeroporto! 100 Kz!”

O bom de regressar já de noite foi ter sido acompanhado por uma fabulosa Lua cheia que me trouxe recordações tão boas…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Kwanzas”

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  1. Aqui na metrópole também dava para ver uma lua cheia bem bonita e lembrei de alguém muito especial e que me é muito querido.

  2. “De Afonso Loureiro
    Será que ainda se vende disto?”

    Como até aos meus 7 anos de idade vivi nos Coqueiros (Rua Duarte Lopes), era costume aproveitar a hora do lanche, para se fazer uma visita à fábrica da Mission (com a desculpa de se trocar dinheiro para a avó) e beber uma abençoada e fresquinha Mission à borla. O difícil era mesmo entrar, mas depois lá dentro era bar aberto no pequeno bar dos trabalhadores. Claro que se podia beber Coca-Cola ou mesmo outro refrigerante que houvesse, mas a Mission era raínha entre os miúdos da Rua. Como alternativa havia sempre a possibilidade de se dar uma espreitadela à carpintaria da Mission (era mesmo o nome que dávamos áquele “templo”, onde se faziam as grades de madeira das bebidas), e cravar uma Mission a algum dos trabalhadores negros que lá trabalhavam. A entrada da carpintaria ficava mais ou menos a meio da Rua que sobe para a DEFA (Fiquei a saber por si Afonso).
    Estudei na primária em frente ao estádio dos coqueiros.
    As saudades apertam. Obrigado pelo blog e pelas fotos.

  3. Oi, Perguntei na minha avo e ela disse que fecharam a fabrica que produzia Mission. Por coincidência ela recordou-se desta bebida na semana passada.
    Abraços!!

  4. O velho edifício da Mission junto ao Estádio dos Coqueiros era, da última vez que o vi, um armazém de bebidas, maioritariamente gasosas.

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