As etiquetas dos fardos
Afonso Loureiro
Em Angola há muitos que querem parecer mais ricos que as suas possibilidades, mesmo que isso implique ter mais mês que ordenado. A vaidade e o orgulho em usar roupas novas e de marca sobrepõem-se a outras necessidades.
Quem não pode mesmo, ou não se preocupa muito com o que veste, recorre às roupas dos fardos, vendidas a preço de saldo nos mercados. Algumas agências humanitárias enviam para África toneladas de roupas doadas nos países ricos, enfardadas em grandes sacos para facilitar o transporte. Deveriam ser doadas a quem delas precisasse, mas já se sabe que as doações acabam muitas vezes nos mercados paralelos, tornando-se o modo de vida de alguns. Mesmo assim, são de tal forma baratas, com um par de calças a ser vendido por 50 kz, por exemplo, que uma maneira de insultar alguém é insinuar que veste roupa de fardo. Nas províncias é insulto oco, mas na cidade grande, onde cada um quer parecer mais do que é, pode ofender, ou ser o início de uma boa estiga.
Feito por medida
A obsessão com marcas é de tal modo importante que, no princípio dos anos oitenta, havia quem disputasse as roupas rasgadas dos fardos, especialmente as de marcas sonantes, não para as vestir, mas sim para aproveitar as etiquetas e revendê-las aos alfaiates que, por sua vez, podiam produzir peças semelhantes e vendê-las como originais. O que importa é poder dizer que se veste a marca, mesmo que todos saibam que é falsificação caseira.
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