Chalé de muro
Afonso Loureiro
Grande parte dos santomenses habita em casas de madeira, construídas segundo a tradição. Mesmo na própria cidade de São Tomé, com cerca de 40’000 habitantes, os bairros mais populares, como o Riboque, são uma sucessão de casas modestas.
As casas mais comuns são construídas sobre estacas, com um telhado de duas águas e um pequeno alpendre. O espaço em baixo é deixado vago, para servir de armazém ou, caso seja necessário, acrescentar a casa rapidamente. Por serem construções modestas, poder-se-ia esperar serem algo toscas, mas a verdade é que o trabalho na madeira é uma tradição antiga nestas ilhas. Já os Angolares eram famosos por aparelharem as melhores tábuas. Para além das paredes muito direitas, as caixilharias e os remates das balaustradas mostram que há excelentes carpinteiros a trabalhar e, acima de tudo, com gosto no que fazem.
Exemplo de casa tradicional
Mas as casas tradicionais, apesar de extraordinariamente adaptadas ao clima e necessidades das pessoas, trazem consigo o estigma da pobreza. A construção com tijolos ou blocos implica capacidade económica para o fazer. Casa de tijolo não é casa de pobre.
Como as terras são do Estado e apenas podem ser arrendadas por períodos longos, uma construção definitiva, como uma casa de tijolo implica também que se pague a renda, o que significa mais um investimento. Quem o faz, procura assegurar-se de que o usufruto da propriedade é apenas seu e ergue um muro a toda a volta. O muro passa a ser também sinal de ostentação e o sonho de muitos santomenses era ser proprietários daquilo a que chamam um chalé de muro.
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