As mentiras dos bilhetes
Afonso Loureiro
Há uns anos, sob o pretexto de economia de recursos e modernidade, os bilhetes de papel do metropolitano de Lisboa, da Carris e da Cp começaram a ser substituídos por outros, também de papel, mas com um circuito electrónico integrado. Prometiam poder usar-se em qualquer um dos transportes e acabar com o lixo no fim da viagem. De caminho, aproveitou-se para reduzir o pessoal afecto à fiscalização e deixar o controlo dos acessos a cargo de máquinas antropófagas – pelo menos a julgar pela velocidade com que fecham as mandíbulas à volta dos passageiros.
A redução de pessoal não foi plenamente conseguida, uma vez que em cada átrio é necessário estar alguém para intervir caso haja uma avaria ou um passageiro com o bilhete estragado. A solução passou pela subcontratação de seguranças e vigilantes, como de costume. Pelo menos nas contas os encargos fixos com pessoal diminuíram drasticamente.
Mas voltemos aos outros argumentos, o da universalidade dos bilhetes e o da redução do desperdício de papel. O primeiro é uma grande mentira. Um bilhete comprado na CP só poderá ser usado com bilhetes da CP, mesmo que esteja vazio. O mesmo se passa com bilhetes de Metro e de autocarro. Mesmo tendo um bilhete na carteira, é quase certo que se tenha de comprar outro e também não é possível utilizar o cartão das assinaturas mensais, que funcionam com a mesma tecnologia. Cartões rígidos são para os passes, bilhetes normais são para viagens avulsas. E, mesmo que em bom estado, ao fim de um ano deixam de se poder usar. O passageiro compra outro ou vai a pé.
O segundo argumento, o do fim do desperdício de papel nos bilhetes, cai por terra sempre que se carrega o cartão. Somos sempre brindados com um papel, maior que o bilhete antigo, para acompanhar o bilhete electrónico. Supostamente, é a única maneira de provar que se tem o cartão carregado no caso deste avariar. Até parece que cada cartão não tem um número de série único e que os carregamentos não são operações passíveis de serem arquivadas num registo central, mesmo que com algum atraso. Esta solução não só é possível, como já é usada noutros sistemas integrados de transporte europeus.
O bilhete que evita desperdício e o desperdício não evitado
O sistema actual conseguiu manter todos os inconvenientes do anterior, exactamente os mesmos que se dizia ir eliminar, mas sempre se ficou com um ar mais moderno.
Tendo de me deslocar com frequência ao centro de Lisboa, opto por ir de carro se tiver de visitar vários clientes. Apesar de caro, o sistema de parquimetros permite que existam lugares vagos ao longo do dia, mesmo que tenhamos de andar a “vasculhar” as imediações.
Por razões práticas e ecológicas, quando tenho de passar grande parte do meu dia num determinado local da capital, opto por deixar o carro em Carnide, rumando ao centro de metro. Sem dúvida que deixo de ter aquela preocupação se já passou a hora do ticket, se o fiscal vai-me multar, se o carro vai lá estar ou se foi rebocado… No entanto, e comentando o post deixado pelo Afonso, este sistema de bilhetes permanentes não passa, na minha opinião, de mais uma forma escandalosa de o Metro encaixar mais uns milhões à conta dos seus utentes. Já perdi a conta à quantidade de bilhetes de tive de comprar porque os mesmos estão SEMPRE ilegíveis. Se pensarmos que cada bilhete destes custa 50 cêntimos a mais sobre o valor base de uma viagem, vejo-me perante uma mina de ouro! Tomara eu!
Só a má qualidade dos bilhetes e o mau estado das máquinas de leitura justifica o facto de os bilhetes na posse dos utentes estarem constantemente danificados. O utente é obrigado a comprar um bilhete novo e o Metro encaixa mais 50 cêntimos. Grão a grão enche a galinha o papão!
Curiosamente, em Londres, os bilhetes são iguais, mas permitem carregar todos os tipos de viagens, pelo que quase toda a gente anda com um cartão de plástico, pouco mais caro que os nossos de cartolina. Mais perto, no Porto, só há um tipo de bilhete, que permite viajar de autocarro, de metropolitano e comboio. Se numas cidades funciona, porque há-de a nossa ser diferente?