O Quinas emigrou
Afonso Loureiro
Naquela estranha relação que Angola tem com Portugal, revestida de traumas de parte a parte a tornam difícil de perceber, há ocasiões em que chegamos a admitir ser tarefa impossível vir a perceber este amor-ódio.
Mas no que diz respeito a futebol, acabam-se as diferenças. Os clubes angolanos mais importantes disputam as preferências com os portugueses e até mesmo os mais antigos partilham os nomes com os da antiga potência colonial.
Talvez por isso não seja estranho encontrar a mascote do campeonato europeu de futebol que se realizou em Portugal, na beira da estrada que liga o Huambo ao Alto Hama. É certo que está a vender gasosa, mas ficaria mais de acordo com a terra mostrar uma palanca negra com o equipamento da selecção angolana.
O Quinas emigrou
O Quinas, que se viu envolvido num processo de uso indevido de marca registada, por partilhar o nome com os fósforos da Swedish Match, cumpriu a sua missão em 2004. Com o fim do campeonato ficou desempregado e agora, aparentemente, emigrou para Angola. A vida está difícil para todos.
É isso mesmo, meu Caro.
Angola é mesmo algo que se não define, sente-se. Pena é que nem todos, até mesmo os angolanos, compreendam – por exemplo – a razão pela qual tenho, todos os dias, uma lágrima no canto do olho. Lágrima que se perde no deserto português. Mas que se fosse na terra quente de Angola faria nascer uma flor. Uma flor sem nome, uma daqueles flores que só alguns vêem, que só alguns sentem.