Pintura anti-multa
Afonso Loureiro
A razão pela qual a cor mais famosa dos Ferrari se chama vermelho-Ferrari tem uma explicação simples. A tinta não só é vermelha como também confere invulnerabilidade a muitos artigos do código de estrada.
Quem conduz um Ferrari da cor regulamentar beneficia de limites de velocidade alargados, prioridade nos sinais vermelhos com um toque de acelerador e, acima de tudo, permissão para estacionar nos locais mais cretinos e não ser multado, mesmo com polícias por perto.
No dia em que fomos almoçar a Porto Brandão, em frente da Gare Fluvial de Belém estava parado um Ferrari com vinte anos. Estava estacionado no meio do largo onde, nem com muito boa vontade, se poderia dizer ser tolerado parar. Mas o certo é que o vermelho-Ferrari apenas fazia virar os pescoços para apreciar as linhas e imaginar quanto custaria sustentá-lo.
Só após muita insistência por parte de transeuntes é que o polícia de serviço se aproximou do carro e começou a anotar a matrícula. Certamente achou ser um acto contra-natura, mas fê-lo para mostrar que as regras são para todos.
Vermelho-Ferrari
Entretanto chegou o dono do carro. Explicou ao polícia as características especiais da tinta da máquina e foi-se embora com um «Agora veja lá se o estaciona melhor da próxima vez…»
E se fosse um carrito do povo?
Estás a ver porque escolhi o BMW desta cor? Vermelho-Ferrari é um extra que só traz vantagens!
Vermelho Ferrari é produzido exclusivamente para a Ferrari. Contenta-te com a BMW vermelha, que também te safa das multas, nem que seja pelos decotes).
Ao ler esta deliciosa constatação da realidade lusa, recordei-me de um episódio que – com a benevolência dos seus elitores – aqui partilho.
O episódio passou-se na freguesia de Rebordosa (Paredes). Um GNR veio identificar-me por ter sido testemunha de um acidente de viação.
– Qual é sua profissão? Perguntou-me com a autoridade que a farda lhe conferia.
– Jornalista, respondi ao mesmo tempo que reparei que ele escrevera jornaleiro.
Alertei-o para o lapso. “Eu sei o que estou a fazer! Meta-se na sua vida”, respondeu-me com a tal autoridade que a farda lhe conferia.
Resultado. Quando o Tribunal de Paredes me convocou para o julgamento, lá vinha a designação profissional: jornaleiro.
Coisas da vida!