Moscas peganhentas
Afonso Loureiro
Os ditados populares que prevêem o estado do tempo são uma forma de recordar os sinais que anunciam mudanças. Direcções de ventos, formas de nuvens ou cor do céu permitem adivinhar a chuva, o frio ou o calor. A rima, quase sempre presente, é um auxiliar de memória, para não confundir os sinais.
Nas Beiras, por exemplo, o frio adivinha-se pela cor do céu a nascente «Céu vermelho para Espanha. Aparelha o burro e vai à lenha.»
Já no Alentejo, ouvi muitas vezes dizer que as moscas peganhentas são sinal de chuva. A princípio desconfiei, mas tenho de admitir que quem chegou a esta conclusão era um etologista de primeira. Admiro-lhe a capacidade de observação e associação de dois fenómenos tão distintos. Com o tempo húmido, a prometer chuva ou trovoada, as moscas andam, de facto, muito mais chatas que o costume, tentando pousar-nos na cara e nos braços constantemente.
Não sei ao certo o que justifica este comportamento, mas é certo que quando andam assim, chove quase sempre nas horas seguintes.
Umas das naturais de Mora diz com um sotaque alentejano delicioso:
“As moscas andam moles!”