Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

17  09 2010

Quissange

Uma das peças de artesanato angolano de que mais gosto foi adquirida um pouco fora do circuito habitual dos mercados de arte de Luanda. Veio da Lunda Norte, juntamente com mais algumas peças simples. Comprei-o junto do Hotel Alvalade, a um mais-velho que se sentava à sombra da mangueira raquítica do separador central.

Quissange
Quissange

Trata-se de um Quissange, um instrumento musical com pequenas palhetas de metal que se dedilham com os polegares. É um instrumento tosco, feito com sobras de metal e as ferramentas que havia, mas ficou bem afinado e tem um som agradável.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Quissange”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Quando saí do Quimbele, o João deu-me um quissange e um pente feitos por ele.
    – Toma minina, pra tu lembrares-me lá no “Puto”!
    Passaram 43 anos, ainda tenho o quissange e o pente e nunca esqueci o João.

  2. A memória é sempre fonte de surpresas. Deixa-se marcar indelevelmente com pormenores que, para os outros, parecem desnecessários. O quissange e o pente do João podem ser objectos simples, mas o significado que acarretam transcende as fronteiras da distância e do tempo. Quando olha para eles, não se interroga o que foi feito do João?

  3. Claro que sim, muitas vezes. Eu e minha mãe tinhamos uma ternura e carimho diferente pelo João, que ele retribuia de forma muito doce. Fomos para Angola, porque o meu pai militar, foi colocado no Quimbele em 1968/69. Gostou tanto daquela pequena vila que nos fez lá ir ter. Um mundo diferente e fantástico, fazendas de café, frutas diferentes, cheiros, usos e costumes e as pessoas de cabeça mais “aberta”.
    O João era um rapaz, já casado que ainda não teria 30 anos. Morava na sanzala e ia trabalhar para o armazém de café que ficava ao lado da nossa casa. Foi a minha mãe que fez amizade com ele e eu fui por arrasto. Todos os dias antes de voltar para casa ele chamava: – Senhora! eu tou aqui!!
    A minha mãe dáva-lhe o jantar para ele levar.
    O Joâo estava para ser pai pela primeira vez, levou a mulher lá a casa. Negra linda e delicada, dizia a minha mãe.Costurou-lhe o enxoval para o filho, aproveitanvo muitos tecidos que procurava nos fasdos, pois lá não havia lojas de roupas. foi o bébé mais bem vestido da sanzala.
    O Joâo provou as cerejas e as nozes que a minha avó mandou.
    “Senhora, como é o “Puto?”- A tua terra é muito bonita,Joâo!
    Afonso, durante aqueles anos de guerra, ele nunca foi esquecido, e tenho a certeza que a minha mãe pedia por ele nas suas orações.
    Nunca soube o que foi feito dele, mas no meu coração está no sítio de sempre.
    Passei agora os dedos pelo quissange, tenho uma lágrima a escorrer pela cara e saudades daquele “negrão” alto com coração de menino.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »