Barroco do Leão
Afonso Loureiro
Os seres humanos foram moldados por uma perpétua insatisfação, por uma necessidade absoluta de conhecer a resposta de todos os «Porquê?». Ao longo de milénios, numa tentativa de perceber como funciona o mundo, criaram-se mitologias várias para explicar os fenómenos naturais. Algumas foram quase esquecidas e hoje são reaproveitadas para tentar perceber novos porquês – Porque razão procuramos respostas para tudo? Porque surgiu esta teoria e não outra?
Faz parte da condição humana tentar perceber como funciona o mundo. A ciência moderna ocupa o lugar das antigas mitologias, mas fará certamente parte dessa família de explicações obsoletas daqui a algumas gerações.
Mas, mesmo que queiramos aceitar o mundo como ele é e não tentar perceber o que nos rodeia, o nosso cérebro encarrega-se de nos informar que tal é impossível. A todo o momento procura interpretar os padrões e formas que os sentidos lhe comunicam, comparando as memórias com a novidade e criando a matéria-prima para a génese de mitos.
A imaginação tem um papel muito importante neste processo. Foi graças a ela que a arte e escrita surgiram, permitindo a substituição do real pelo figurado, do símbolo pela coisa, da palavra pelo conceito. É essa nossa capacidade de associar símbolos a objectos que nos permite ver desenhos nas nuvens ou de perceber mais nas rochas do que meras rochas.
A meio caminho entre o Sabugal e a aldeia de Sortelha há um grande rochedo isolado. É semelhante aos muitos outros blocos errantes que se avistam a toda a volta, nesta região chamados de barrocos, mas tem a particularidade da sua forma e uma fenda que o atravessa nos sugerirem, de um certo ângulo, a cabeça de um animal. Dizem que parece um leão e, por isso mesmo, lhe chamam o Barroco do Leão.
Barroco do Leão, Sabugal
Certamente terá havido inúmeras explicações para a forma curiosa que o bloco de granito tomou, havendo até mesmo que acredite que teria sido parte central de cultos anímicos pré-históricos, mas isso também faz parte do que podemos imaginar para explicar porque achamos a sua forma interessante.
Coordenadas aproximadas (WGS84): N 40º 20.433? W 7º 8.780?
A forma imaginada permite distinguir esta rochas das outras e cria um ponto de referência fiável, capaz de ser reconhecido até por quem não conhece o penedo. A associação zoomórfica a rochas, que depois passam a ser pontos de referência, não é única desta zona. Até na Ilha do Pico há uma povoação que deve o seu nome a uma rocha com a forma de cabeça de cão – Porto Cachorro.
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