Cigarro de pedreiro
Afonso Loureiro
São sempre os pormenores que me despertam a atenção e os pequenos gestos das pessoas com quem me cruzo contam-me mais histórias do que as palavras que trocamos.
Certas classes profissionais têm maneiras muito peculiares de executar o que, para os restantes, parece ser ilógico fazer sem ser como está convencionado. Abrir um maço de tabaco, por exemplo, parece não oferecer grandes alternativas senão as que parecem ser mais simples. As tabaqueiras até se dão ao trabalho de colocar pequenas indicações avisando onde rasgar ou puxar.
Mas quem trabalha na construção civil, raramente segue estas indicações à letra. Sempre com as mãos cheias de pó, não deve ser muito agradável tirar um cigarro do maço puxando-o pelo filtro. É por isso que, quase sempre, abrem o maço pelo fundo, ou viram os cigarros todos ao contrário. Dessa forma, mesmo que não tenham as mãos limpas, apenas sujam a ponta do cigarro.
Hoje cruzei-me com dois reformados a jogar às cartas nas mesas do jardim. Um deles abriu um maço de tabaco. Bateu bem os cigarros, rasgou toda a parte de cima, tirou os cigarros ainda envoltos no papel de alumínio, voltou-os ao contrário e tornou a enfiar tudo no maço, com os filtros virados para baixo. Fiquei com uma boa ideia do que fazia antes da reforma.
Não é preciso ser-se pedreiro.
Fui fumador em tempos que já lá vão e sempre procedi de forma idêntica.
Mas a observação é correcta e permite-nos imaginar um sem número de profissões que implicam cuidados tais.
Ah! Vou procurar não faltar ao lançamento do livro. Obrigado pelo convite.
Egídio
Em minha defesa apenas posso acrescentar que todos quantos conheço que abrem assim os maços estiveram ligados à construção civil em alguma altura.