Alfarrabistas do autocolante
Afonso Loureiro
Há nichos de mercado estranhíssimos, que parecem não poder gerar quaisquer proveitos, mas o certo é que são o sustento de alguns ao longo de décadas.
À porta da estação do Rossio, desde sempre que me lembro de ver vendores de cromos, que reduzem a sua loja a duas malas cheias de autocolantes e um banco. As colecções de cromos são fáceis de começar, mas quase impossíveis de completar por causa dos últimos autocolantes, que parecem nunca aparecer nas carteirinhas. A solução é trocar os repetidos com alguém ou, se este recurso falhar, ir comprar os cromos avulso a estes alfarrabistas do autocolante.
O negócio
Há alguns anos, as cadernetas de cromos eram frequentes, mas foram desaparecendo com a mudança de modas. O imediatismo do prazer actual não se compadece com a espera pela próxima carteirinha ou com o colar o autocolante no sítio devido sem ter de ir procurar ao Google como se faz.
Seria de esperar que este negócio desaparecesse com a quase extinção das cadernetas, mas o facto é que subsistem alguns vendedores. Ainda há clientes que justifiquem os dias passados sentados a poucos metros de onde foi assassinado o Sidónio Pais.
Curiosamente, nem nos tempos áureos da profissão me lembro de os ver senão nos Restauradores e Estação do Rossio. É um nicho de mercado também com fronteiras apertadas.
Deixe uma resposta
Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.