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16  01 2011

Arte escondida

Por esse mundo fora há artistas anónimos e altruístas que partilham as suas obras com quem passa, sem sequer se aperceberem disso, de tão natural ser a arte que lhes sai das mãos. Muitos limitam-se a fazer a peça para si, para apreciarem o efeito ou para entreterem o espírito.

Nas encostas de pedra solta ou nas matas, com muito material disponível, as obras nascem do chão e confundem-se com a paisagem. Ora são as pedras a formar linhas sugestivas, ora são as folhas verdes, castanhas, amarelas e vermelhas dispostas segundo padrões interessantes. Neste último caso, a obra dura apenas até à primeira chuva ou vento forte, se a própria manta morta não a incorporar primeiro.

Estes anónimos dedicam-se a uma obra efémera com esmero e deixam-na sabendo que poderão ser os únicos a apreciá-la, pois pode muito bem acontecer que a sensibilidade certa não chegue a tempo. Mas fazem-na e sabem que esse é o verdadeiro objectivo da sua arte – criar obras para proveito próprio. É arte selvagem, que não está confinada ao mundo das galerias e nasce e morre ao ar livre.

Em terras mais a sul, onde a relação do Homem com a natureza é muito mais próxima do que aquela a que estamos acostumados, outros artistas, menos delicados que os empilhadores de seixos ou os organizadores de folhas e paus, usam as ferramentas do seu trabalho para a escultura selvagem. Num momento de ócio usam o machado ou a catana e, com poucos golpes, criam uma obra num tronco velho. Surgem caras, animais e pessoas inteiras. Às vezes ficam por concluir, mas não deixam de mostrar que por ali passou um artista.

Palmeira esculpida
Palmeira de São Tomé e Príncipe

É preciso apenas estar atento.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Arte escondida”

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  1. Realmente é verdade e tantas as vezes a vi ao natural, não em S.Tomé mas por terras de Angola. Também serviam de guia para não se perderem no regresso:)

    Adorei!

    Um bom domingo

  2. Existe tanta ignorãncia, chamemos assim, a uma apreciavel e valorizada arte índigena. Arte essa feita sem ganância ou competivismo marcantes no comércio artistico. De material naturistico envolvem sentimentos, crênças e idealismos com costumes próprios de uma raça sem vaidades. Apenas com um sorriso e com machado, e catana, pegam num simples pau ou folhas, talham uma peça com o espirito do momento. e o que sai; UMA ARTE.
    Mas também as fazem em pedra africana.

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