O sexo vende tudo, até margarina
Afonso Loureiro
Lembro-me de, quando era pequeno, haver um anúncio de margarina absolutamente detestável – a margarina e o anúncio, em partes iguais. Recordo vagamente uma operária fabril, complementada pela obrigatória bata azul a afirmar, com um sotaque carregado do Douro Litoral, que «lá em casa só se come Plánta!». Admito que a memória desta senhora esteja já um pouco contaminada pela imagem que guardo dos despedimentos colectivos no vale do Ave por volta da mesma altura, e que ela usasse tudo menos uma bata azul.
Mas os tempos mudam, as considerações estéticas também e, com o fim do tecido industrial português, o público-alvo dos anos oitenta desapareceu. A operária fabril não apresenta a sofisticação desejada para a agência publicitária e começaram a pensar numa nova campanha para revitalizar a marca.
A Planta é uma marca comercial relativamente antiga, mas que sempre esteve associada a produto barato. Tem uma clientela fiel, que não precisa de campanhas publicitárias para se decidir a comprá-la. Por ter uma imagem tão enraizada, encontrar uma forma de a tornar apelativa a novos consumidores é uma tarefa difícil, quase como tornar a pasta dentífrica Couto um sucesso de vendas para a geração Colgate.
Com falta de ideias, alguém se socorreu do plano B – Sexo! Porque sexo vende tudo, desde automóveis a facas e martelos. Claro que também vende margarina! E foi assim que se encheram as ruas das cidades de cartazes pirosos com umas moças em roupa interior e com um ar desconsolado. A legenda diz que têm a cama cheia de migalhas, ou que lhes roubaram as torradas. Mas ninguém sabe o que tentam vender. Lá num cantinho, quase escondido, aparece o nome da margarina – parece que agora tem um aditivo que lhe disfarça o sabor. De imediato imagino a rapariga a vestir uma bata azul e a reclamar das migalhas na cama como se fosse uma peixeira da Ribeira.
Infelizmente, não é com estas raparigas chapa-cinco que se desembaraçam da imagem datada do produto. Toda a gente sabe que estas caras aparecem apenas porque lhes pagam e que para a semana estão a dar o corpo para uma campanha de cremes de barbear ou chaves inglesas – falta-lhes a convicção genuína que a outra senhora transmitia.
«Ainda hei-de vender margarina!»
Certamente que as vendas irão aumentar um bocadinho. Afinal de contas, fala-se na marca, mas assim que as mulheres despidas passarem para a campanha do Tulicreme, voltará ao mesmo.
Tulicreme! Agora tive um momento “blast from the past”! É que já não ouvia falar desse produto há mais de um década!
Da próxima vez que cá vieres, avisa, que eu arranjo-te uma embalagem de Tulicreme!
Na semana em que morreu Maria Schneider, uma campanha sensual para vender margarina pode até ser considerada uma homenagem póstuma. 1001 utilidades.
Mas…
O que é um cartaz piroso?
A campanha começou cerca de um mês antes da morte da Maria Schneider, mas duvido que ela gostasse da associação. A cena ficou famosa, mas deu-lhe cabo da carreira.
E um cartaz piroso, é um cartaz de mau gosto, mal amanhado, parolo, fajuto…
Planta conheço, mas desconhecia esta nova publicidade. Hei-de pesquisar:):)