Carta Magistral IKEA
Afonso Loureiro
Três anos e uns trocados depois de concluir o mestrado, a Universidade do Porto enviou-me a Carta Magistral. O gigantesco envelope cheio de avisos para não ser dobrado prometia um diploma todo bonito e delicado. Como me enganei.
É certo que não esperava um diploma lavrado em Latim, com um pesado selo de lata prateada lacrado. Esperava que fosse algo com um ar digno, que levasse o seu detentor a considerar seriamente se deveria emoldurá-lo ou guardá-lo numa latinha parecida com a da licenciatura. Já me daria por contente se o aspecto do diploma estivesse dois ou três furos acima dos certificados de participação na corrida de sacos organizada pela Junta de Freguesia.
Que poderei eu dizer de um pedaço de cartolina quadrado em que imprimiram o que parece ser um e-mail. A própria certidão de grau é mais interessante. De esguelha, as grandes letras roxas brilhantes com a palavra Mestre quase parecem anunciar Viagra. Ainda por cima, tem um formato de tal forma abstruso que nem cabe num arquivador normal. O aspecto gráfico da coisa é de tal forma deprimente que me arrependo de ter aberto o envelope. Sempre podia imaginar que fosse o tal certificado de participação no torneio infantil.
As universidades são locais de tradição e, por vezes criticadas por serem demasiado conservadoras, e quase aposto ser esta uma das formas de melhorar essa imagem. Ao invés de começar pela raiz, começa-se pelo aspecto gráfico dos documentos e seguem-se as linhas modernas, estilizadas e despojadas de requinte. É a abordagem IKEA aos diplomas.
Desilusão de Carta Magistral
Um tímido selo branco e a assinatura do Magnífico Reitor compõem um bocadinho, mas o meu certificado de presença no Cabo da Roca, emitido pela Câmara de Sintra, tem um aspecto muito mais digno. Até vem lacrado.
E já te deves dar por contente por não vir tudo em peças numa caixa de cartão para montares em casa.
Melhor ainda era mandarem-me uma caixa de lápis de cor…