Na Manif
Afonso Loureiro
No Sábado fui à manifestação. Fiz parte do número, mas comportei-me mais espectador que outra coisa. Fugi dos cortejos organizados com palavras de ordem ensaiadas gritadas ao megafone e juntei-me aos grupos de amigos com slogans espontâneos, que cantavam versos de Zeca Afonso ou discutiam política com turistas em inglês ou francês.
Cartazes
Passei grande parte do tempo a andar de costas para fotografar cartazes ou gravar o senhor que tocava o "Laurindinha" na gaita-de-foles. Apreciei a calma com que os polícias recebiam os manifestantes nos cruzamentos. Alguns até dormitavam nas carrinhas como quem goza uma sesta, embalados pelas palavras de ordem ritmadas.
Espectadores
Nas janelas da Rua de São Bento muita gente à janela a bater palmas ou só a ver passar as gentes que mais do que indignadas se sentem de mãos atadas. Pelo meio, o cão de loiça apreciava o panorama silenciosamente.
Cartazes
Só mesmo em frente à escadaria do Parlamento se conseguia ter a noção de quanta gente se manifestava. A Rua de São Bento encheu de uma ponta à outra e ainda sobravam manifestantes.
A questão aqui, e a razão porque nunca me meto nestas coisas das manifestações, é toda a desorganização e leveza com que se fazem.
Aquilo parece uma festa, onde a meio da tarde já estão metade dos manifestantes bêbados, a cantar o Grandola Vila Morena abraçados, sem a mínima noção do significado nem do “Porque é que estamos aqui mesmo?”
Se visitarmos o local no dia seguinte, parece que foi ali o Rock in Rio, ainda com um cheirinho a erva no ar, garrafas e outro lixo espalhadas pelo chão, etc.
E é assim que queremos ter razão perante os gajos que nós próprios lá pusemos?
Por acaso não se parecia uma festa, mas havia lá uns quantos que se preparavam para afinar as gargantas com cerveja e uns charros.