Verbos ser e estar
Afonso Loureiro
Uma característica que separa o Português de muitas outras línguas europeias é a existência de dois verbos distintos para ser e estar. Em Francês e Inglês, por exemplo, être e to be são paus para toda a obra e, como ferramentas grosseiras que são, tornam-se incapazes de traduzir as subtilezas dos correspondentes verbos portugueses.
Mas não se pense que lá por termos verbos distintos para ser e estar os segregamos de tal modo que não se falam. Como em tantas outras coisas, somos um bocado promíscuos neste assunto e usamos um ou outro consoante queremos dar ênfase a determinados aspectos.
Ser Belém e estar em Belém
Não há forma concisa nem minimamente precisa de traduzir expressões como «Estou doente»,«Sou doente», «Ando doente» ou «Tenho andado doente» sem cair num singelo «Je suis malade» que nada acrescenta. Os portugueses sabem instantaneamente catalogar todas as gradações entre as várias frases.
E haverá maneira mais concisa de uma viúva anunciar o estado civil no centro de saúde do que um modesto «Sou sozinha»?
Eu sempre me espanto em pensar como tanta gente consegue viver uma vida inteira sem precisar explicitar essa diferença.
Em inglês é fácil inventar novas palavras e transformar substantivos em verbos num ápice, mas isso são apenas atalhos para explicar o que se quer ou o que se faz. Quando chega à altura de explicar o que se pensa, o que se sente, faltam as ferramentas. Línguas pobres geram pensamentos pobres. E infelizmente para aqueles que não a conseguem explicitar a diferença entre ser e estar, nunca hão-de compreender as infinitas subtilezas que uma língua rica oferece.