Traga as páginas amarelas de Lisboa e duas listas de Mirandela
Afonso Loureiro
Graças ao cumprimento obrigatório das normas europeias, mas também um pouco para fazer figura, grande parte dos restaurantes tem por lá escondidas umas cadeiras mais altas ou de encaixar nas mesas para as crianças dos clientes. É inovação recente, pois não foi assim há tanto tempo que ainda se via o empregado a atravessar a sala com duas ou três listas telefónicas debaixo do braço para acomodar os petizes.
A idade das crianças classificava-se segundo uma escala decrescente de listas telefónicas. Aos três anos viam o assento da cadeira subir à custa das páginas amarelas de Lisboa e duas listas da Linha de Sintra. No ano seguinte, as duas da Linha de Sintra bastavam e, aos seis anitos, talvez se compusesse a cadeira com uma singela lista de assinantes de Beja.
Novamente graças às normas europeias e também para fazer figura, já nem as castanhas se vendem embrulhadas na página dos canalizadores das páginas amarelas de há dois anos. Parece que não é higiénico ter a tinta em contacto com a casca da castanha, a tal parte que não se come. Embrulho de castanha assada, tal como assento de criança, agora só com o carimbo CE.
Mas mesmo que se quisesse fechar os olhos a tanta norma, agora já é tarde para ressuscitar o hábito de reciclar as listas telefónicas como papel de embrulho ou assento de crianças nas cadeiras do restaurante. Cada vez menos gente tem telefone em casa, e os anunciantes têm fugido das páginas amarelas para meios com melhor retorno.
A ideia que temos das listas telefónicas de formato enciclopédico está cada vez mais longe da realidade. Durante anos foram encolhendo. Depois passaram a ter de um lado a lista de assinantes e do outro as páginas amarelas. A redução continuou e foi de tal forma, que hoje parecem pequenas revistas impressas em mau papel fugidas de algum quiosque.
Embrulha quatro dúzias de castanhas
Agora, se faltarem as cadeiras de criança, já nem as listas são solução de recurso.
Então e a tinta que passa para parte aberta da castanha assada? E as mãos que descascam as ditas? Parece-me que a tradição de comer com as mãos limpas (e quem não se lembra da mãe a mandar-nos lavar as mãos antes de nos sentarmos à mesa) ainda não passou de moda… As normas de higiene e segurança SÃO importantes, mas também é óbvio que há abusos ridículos como aquela de não se poder usar os tradicionais galheteiros nos restaurantes… Abraço!
Obviamente que é um exagero e também havia muita criancinha a dar com os queixos nas mesas quando as listas escorregavam. Mas é por se abusar das regras sensatas que depois se cometem os exageros dos galheteiros, ou quando se ordena a fábrica de amêndoas de Portalegre fechar porque não tinha instalações sanitárias separadas para homens e mulheres nas áreas de fabrico, embalagem e atendimento ao público – a loja tinha 50 metros quadrados e era gerida por marido e mulher desde sempre.