Um café bem docinho
Afonso Loureiro
As conversas ao final da refeição na cantina da faculdade costumam ser bastante variadas. Ainda por cima temos a sorte de trabalhar com gente de muitas partes do mundo e de receber visitas frequentes de investigadores estrangeiros. Tudo ajuda para se ter sempre temas novos de conversa e conhecer outras formas de encarar o mundo. Cada povo tem os seus hábitos e, por vezes, as coisas que tomamos por certas ou que são um pilar da nossa identidade podem chocar de frente com o que os outros julgam ser o mais acertado.
Há um tema que surge no final da primeira semana de todo o estrangeiro – os pacotinhos de açúcar. Aparentemente, o nosso grupo divide-se em três facções. A primeira, quase maioritária, não põe açúcar no café. A segunda usa menos de metade do pacote ou partilha-o entre duas ou três pessoas. E depois há sempre uma ovelha negra que despeja o pacotinho inteiro na chávena. Para os estrangeiros isto não passa de um aberrante desperdício. Se usamos tão poiuco açúcar, porque não temos pacotes mais pequenos, ou açucareiros como nos países civilizados onde o lobby das embalagens não tem tanto peso e a ASAE não se aborrece com os açucareiros comunitários.
É verdade que os pacotes podiam ser mais pequenos, mas quem usa um inteiro acabaria por fazer mais lixo ao abrir dois ou três, mas o certo é que acabamos por usar muito menos açúcar do que noutras partes do mundo. Lá nas terras do Nordeste brasileiro vimo-nos gregos para encontrar café que não estivesse já açucarado ao ponto de parecer xarope. E da única vez em que conseguimos um espresso digno desse nome, trazia mais pacotes de açúcar que chávenas e pires juntos.
Cinco pacotinhos de açúcar para dois cafés
Deixe uma resposta
Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.