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07 2022

Jogar às cartas e comer feijão

Passada mais de uma década da minha aventura angolana, partilho agora o gabinete com um doutorando angolano do Lubango.

Tem sido um verdadeiro prazer poder partilhar as impressões de Angola já filtradas pela memória com quem me pode explicar melhor alguns pormenores que me passaram ao lado.

Calhou em conversa dizer-lhe que muitas vezes vi pessoas a jogar damas na rua e, menos frequentemente, xadrez. No Huambo vi jogar kiela (ou uela, em Umbundu) na avenida do aeroporto. Nessa mesma cidade, vi um tabuleiro de xadrez para jogar de pé, com peças de 60 cm de altura. No entanto, e apesar de muitas vezes encontrar baralhos de cartas depenados nas valetas ou cantos de quintal, nunca vi ninguém a jogar às cartas.

Fiquei a saber que jogar às cartas é uma tradição durante os óbitos. Joga-se noite dentro todos os dias, até ao funeral, o que pode demorar bastante tempo se houver familiares que venham de longe.

Outra das imagens de marca dos óbitos é o feijão. Não pode haver um óbito sem que se coma feijão.

Um cumprimento habitual a quem não se vê há muito é:

– Pensei que fosse jogar às cartas e comer feijão da próxima vez que te visse.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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