Positivismo oficial
Afonso Loureiro
A primeira campanha eleitoral desde 1992 tem revelado facetas novas de Angola. Uma delas é o positivismo oficial. Nas rádios só passam notícias boas, agradáveis e bonitas. Na televisão anuncia-se a conclusão de projectos, a inauguração de equipamentos sociais, o início de obras estruturantes. No Jornal de Angola são páginas e páginas de exemplos de sucesso tanto do cidadão comum, que foi ajudado a conseguir uma vida melhor, como da reabilitação de infra-estruturas, da conclusão de operações de desminagem e números, muitos números a demonstrar que Angola está no caminho certo.
Os vários ministérios apressam-se a executar obras. Todos eles constroem casas e pontes, mesmo que a sua competência seja a de zelar pela produção de cereais. Surgem os ministros na televisão, a disputar tempos de antena nos noticiários, demonstrando que o seu ministério é o que mais obra faz. Sem pejo, reinauguram-se escolas primárias ou centros de saúde. Faz-me lembrar as auto-estradas lusitanas inauguradas duas e três vezes.
Tal como em Portugal, o número de obras começadas nos meses que antecedem as eleições é avassalador… e já estamos de sobreaviso. Aqui ainda é novidade e a falta de grandes campanhas de obras públicas nas últimas décadas apenas faz estas parecer mais do que realmente são.
No fundo, não se pode censurar esta atitude. É preciso julgar as coisas, não com os valores que trazemos, mas com os que cá vigoram. Por outro lado, se as obras recentes trouxerem a melhoria das condições de vida às populações, perdoa-se a febre das eleições.
A oposição tem menos canais para expressar as suas opiniões, claro. E já se sabe que se tem de demarcar do MPLA, nem que seja acusando-o de se aproveitar da situação actual. Igual ao resto do mundo, não é? Mas todos eles procuram mostrar que o futuro de Angola é risonho e que agora é preciso reconstruir estradas e vidas!
O certo é que este positivismo oficial é contagioso e vai-se falando nas ruas das coisas novas que aparecem. O melhor mesmo, é ver campanha eleitoral a decorrer sem sobressaltos, com as várias cores a conviver normalmente.
Apetece-me abrir a janela, esticar o polegar e gritar «Angola. Tudo fixe, yá?»
A resposta vai ser um sorriso a abraçar um «Yá!» de esperança.
Afinal, em Angola, nem tudo o que é contagioso é negativo.
Essa alegria e optimismo que faz unir os Angolanos só pode ser um contágio positivo.
Oxalá esse clima de esperança não esmoreça e que, pelo menos, alguns sorrisos se transformem em muitas gargalhadas.
Um grande sorriso para ti.
Enquanto que em Angola as noticias são agradáveis e reina o optimismo por cá o mesmo não acontece… nestes últimos dias os noticiários só falam de roubos e violência, se continuamos assim não sei onde vamos parar.