Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

18  09 2008

Luanda, 24º

Quem inventou Angola, tinha umas ideias muito engraçadas. Encheu esta terra de coisas novas e estranhas, que nos enchem os sentidos e a mente. Os estímulos são tantos, que resolveram reduzir o ruído de fundo e eliminar umas quantas distrações. A meteorologia foi uma delas.

Nas estradas temos muitas preocupações. São os assassinos azuis-e-brancos, são os kazucutas, são os peões alheados do mundo, as zungueiras a correr com a carga à cabeça, as latas vazias a voar sobre os carros, os buracos fundos, as obras, o pó. Se houvesse a possibilidade de chuva, a nossa cabeça explodia só a tentar calcular um trajecto seguro para qualquer lado. Uma variável a mais e era a desgraça completa. Aboliu-se a chuva durante meio ano. Introduziu-se o cacimbo, que disfarça as sombras e esconde o Sol.


No meio do pó e do cacimbo surge sempre algo novo

Ninguém se preocupa com o estado do tempo. Durante seis meses há cacimbo, nos outros seis chove meia-hora todos os dias. Para quê complicar? Só em Portugal é que se chora porque choveu em Agosto ou porque a seca de Dezembro acabou com as culturas de Inverno.

Desde a minha chegada a Luanda que me tenho desinteressado cada vez mais da meteorologia. É repetitiva. Todos os dias olho para o céu e o vejo cinzento. Todos os dias a mesma temperatura constante. Se hoje foi assim, amanhã será igual. Não admira que as pessoas sejam tão descontraídas, que gostem de ir fazendo as coisas em vez de as fazer logo. Até o clima é assim!

Os profissionais mais descontraídos do mundo devem trabalhar no Instituto Meteorológico de Angola. Estou desconfiado que se limitam a ter uma fotocopiadora e uma caneta para mudar a data. Ou então fazem previsões logo para seis meses…

Previsão do estado do tempo para amanhã, em Luanda:
Cacimbo / Aguaceiros (riscar o que não interessa)
24º

Eu, qual ilusionista consagrado, sabendo de ante-mão a previsão meteorológica para amanhã, tive o cuidado de a anotar ainda antes de escrever este artigo… ó p’ra ela lá em cima, armada em título!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Luanda, 24º”

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  1. Aqui dá mais luta essa questão das previsões do estado do tempo, de tal maneira que os profissionais da área, começaram a ser chamados de mentirologistas, porque na maior parte das vezes, as previsões não passam disso mesmo.
    Ainda hoje, quando me levantei para ir para o trabalho, tive alguma dificuldade em saber o que vestir, o tempo começou a arrefecer e ainda chuviscou um pouco de manhã e ao fim da tarde o sol brilhava…

  2. Isto de as previsões da meteorologia serem tão previsíveis faz com que o sujeito que proferiu a máxima “prognósticos, só depois do jogo” possa vir a pensar na possibilidade de também se poderem fazer antes.
    Que agricultor angolano estaria interessado em comprar o nosso velhinho Borda d’Água?
    Quem estaria interessado em saber se ia fazer sol na eira e chuva no nabal?
    Prefiro não saber com tanta antecedência o tempo que me espera, a surpresa de um dia de sol ou de chuva vai quebrando a previsível e monótona rotina de todos os dias.

  3. Por aqui chove de manhã, faz calor à tarde, já começar a ser previsível em Rio de Mouro tambem…

  4. Eu gosto é das temperaturas mínimas do inverno angolano: uns “arrepiantes” 17-18 graus. 😀

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