O meu nome é… Wilson!
Afonso Loureiro
Cá no prédio temos um vizinho chato como tudo. Entendeu que, como somos brancos, não temos mãozinhas e precisamos que nos façam tudo. Tudo inclui trazer o saco do pão da mercearia da esquina.
Encontrou-nos uma vez a abastecer o gerador e, desde então, não nos larga. Já queria vir ver o que se passava com a instalação eléctrica, ele e a sua experiência de electricista de bicicletas.
Obviamente que o que quer mesmo é um subsídio para a cerveja. Quando não arranja pretexto nenhum para nos pedir dinheiro, vem atrás de nós a gritar «Patrão, dá-me 200 paus para comer». Nunca fui promovido tão depressa, no átrio era “amigo” no primeiro andar já era “patrão”. Não foi por isso que o Yanick foi aumentado…
O Yanick ou Lito, ainda não sabemos bem, é insistente. Já nos deu o número de telefone e tudo, não vá a gente precisar.
No entanto, já encontrei um mais chato.
Não sei como se chamava, mas vinha acompanhado de uma bela bebedeira e um cheiro a cerveja que não enganava ninguém.
Apanhou-nos a sair do carro ao fundo da rua e começou por pedir 200 kwanzas para comer. Em aritmética de bolso, 200 Kz é o mesmo que quatro gasosas ou, melhor ainda, quatro latas de Cuca bem fresquinha. Disse que não. Ficou a matutar na resposta. Fechou o punho e esperou que eu fizesse o mesmo para um cumprimento à pugilista. «Yá, tá-se fixe.» Lembrei-me de uma aventura alheia.
Avançámos meia-dúzia de passos e voltou à carga. 150 Kz para comprar uma sopa. «Não, dinheiro não temos.» Tentou o R., que lhe deu a mesma resposta. Ficou outra vez a matutar no assunto.
Quase a virar a esquina em frente à mercearia começamos a ouvir alguém chamar o Wilson. «Wilson! Wilson! Ó Wilson!» E o Wilson, nada. Dava a impressão de que o Wilson era surdo que nem uma porta.
Os gritos foram ficando mais próximos e acabei por perceber que eu era o Wilson!
«Wilson, vá lá. Dá-me 100 Kz para comer um pão.»
«Não, dinheiro não tenho.»
«Wilson, 50 Kz para ir comprar água aos seguranças…»
«Mas é fome ou é sede?»
«Dá-me 50 Kz, Wilson. Fico teu amigo.»
«É fome ou é sede?»
«É fome. Dá-me 50 Kz para comer, Wilson.»
Tinha comigo um pacote de bolachas que encetei no escritório. Se era fome, não me parecia bem recusar-lhe comida, por pouca que fosse. Dei-lhe o pacote para as mãos. Olhou para ele um pouco desanimado.
«Dá-me 50 Kz, Wilson!»
«Já te disse que não tenho dinheiro. Se tens fome, é o melhor que posso fazer.»
Ficou parado no passeio a pensar no que tinha acontecido aos kwanzas sonhados.
Entrámos no prédio e começámos a ouvir um berros lá de fora.
«Wilson! Ó Wilson! Wiiiilson!»
Mantinha uma distância respeitosa da porta do prédio, não fossem os seguranças estar mal humorados, mas não desistia dos Kwanzas.
E foi neste dia que percebi que me chamava Wilson!
Wilson?!!! Há quem chame com cada nome às pessoas… podiam ter-te chamado outros nomes como Manuel.
Esse que te chamou Wilson, quando me cravou a mim, lamentou-se «patrão, não trabalhei hoje». Ora portanto… hoje?
Ó Wilson, podes dar-te por muito feliz, o angariador de kwanzas, foi muito subtil, não te chamou: filho da…
Para a próxima, quem sabe?… È preciso não espantar a caça.
Mas esse serão foi um fartote de riso. Se o moreno é o Wilson, o fininho é o Gelson e a moça é a Lucineide… ou a Madeinusa. 😀