Memórias alheias
Afonso Loureiro
O Aerograma nasceu para servir de repositório às minhas experiências em Angola. Relata aqueles episódios que me ficarão na memória, que passarão a fazer parte de mim. Impedirá, também, que os detalhes se esbatam, que as caras se esqueçam, porque sei bem o quão esquecido sou. Mas aquilo que começou por ser uma coisa muito pessoal, depressa me fugiu das mãos. Agora, o Aerograma vai onde quer, por motivos que só ele sabe. Só as minhas memórias já não lhe chegam. Desta vez levou-me em busca de memórias alheias.
A caminho
Esta viagem nasceu no meio dos comentários que vão dando um certo colorido aos artigos. Os que mais me tocam são os de alguém que teve as suas memórias despertas com a menção a um determinado lugar e pede fotografias deste ou daquele sítio, de casas de familiares ou amigos, de pedaços da infância… Por vezes sinto que é um pedido impossível, porque o que desejam verdadeiramente é viajar no tempo, de ter uma fotografia do que já se lhes começa a esbater na memória. Invocam, com toda a naturalidade, nomes de ruas, lojas de conhecidos e pontos de referência que não existem há trinta anos. Por vezes até sei exactamente qual o sítio que gostariam de recordar, mas percebo que não o poderei fazer sem lhes arruinar essas memórias de tempos, quase sempre, felizes. Muitos anos se passaram e a realidade contrasta muito com o passado.
No caminho errado
Nunca esperaria ir de propósito à Barragem das Mabubas, não fosse um comentário deixado por um militar de Rivungo. Mesmo que existissem, os roteiros turísticos angolanos não a deveriam referir. Afinal de contas, há tantos outros sítios mais turísticos para visitar.
Num Domingo de Verão, com todo o caluanda que se preza na praia ou a beber Cucas à sombra de uma mangueira, o trânsito não estava mau de todo. Para sair de Luanda e chegar ao posto de controlo de Kifangondo, demorei apenas uma hora. São cerca de 25 quilómetros, mas foi uma excelente média, tendo em conta experiências anteriores.
Uma hora depois, estava a tentar decidir se a Barragem ficaria no caminho à esquerda ou no caminho à direita. Apostei no da direita e enganei-me. O engano não foi em vão, porque a paisagem era soberba e ainda consegui fotografar um blindado esquecido à beira da estrada. Regressei à encruzilhada e, dez minutos depois, estava a pedir informações a um polícia na aldeia de Mabubas.
Quase lá
Obviamente que não precisava de lhas pedir, mas já percebi que, se um polícia fizer algo por mim, é menos provável que eu tenha de fazer algo por ele. No fundo, o polícia sente que cumpre a sua missão dando-me informações, em vez se me aborrecer por umas horas a ver se desencanta uma gasosa ou um café…
Barragem das Mabubas
Mas ainda bem que parei. Ele estava sentado à sombra de uma mangueira a ouvir rádio. E julgo que ali perto deveria haver uma ou outra lata de Cuca amassada. Apresentei-me, perguntei-lhe como estava e respondeu-me que «mais ou menos…». Não, não estava doente, estava só mais ou menos. Conversámos mais um pouco e fiquei a saber que a Barragem era no fim da rua e podia-se andar à vontade. Só não se podia era ir para o outro lado, porque ainda estava minado.
Rio Dande
Mesmo na época das chuvas, a albufeira estava quase vazia. Os três descarregadores estavam abertos e soltavam uma torrente furiosa de encontro às rochas a jusante.
Jogo de sombras
A estrutura de betão está bastante bem conservada. Aqui e ali mostra marcas do tempo e do desleixo. Marcas da guerra também há, mas são mais visíveis nas máquinas que faziam mover as comportas. A troco de um objectivo militar obscuro, houve alguém que entendeu ser interessante colocar uma granada em cada máquina e inutilizar uma infra-estrutura fundamental. E, como tantas outras coisas em Angola, uma vez avariada, não há quem componha.
Irracionalidade
A central eléctrica, um pouco mais a jusante dependia de duas tomadas de água, equipadas com filtros para impedir a passagem de ramos e lixo. Estes filtros eram limpos regularmente com duas máquinas instaladas num edifício próprio. Estas não foram destruídas com explosivos. Foram abandonadas e lentamente desmanteladas. Todo o cobre que estava à vista desapareceu, assim como tudo o que não fosse demasiado pesado para se movido. Escusado será dizer que os filtros estão entupidos há décadas e que a central não produziria electricidade nem mesmo se os geradores ainda estivessem operacionais.
Casa dos filtros
Uma coisa que me espanta é que um equipamento destes seja deixado ao abandono. A recuperação desta barragem não seria cara, mas enterram-se milhões em projectos faraónicos como o de encher a Baía de Luanda para construir mais prédios.
A fauna local
E cheguei ao fim da barragem. Daqui para a frente, disse-me o polícia, está minado. Fiquei com curiosidade de ir ver a central eléctrica, mas regresso com o mesmo número de pernas…
Daqui para a frente está minado
À semelhança de outros rios angolanos, o Dande (ou Dange, como é chamado mais para montante) é um rio que tem crocodilos.
É certo que os crocodilos angolanos não têm as dimensões jurássicas dos crocodilos do Nilo, mas mesmo assim não hesitarão em comer gente, se tiverem essa oportunidade. Desgraçadamente, isso acontece por vezes.
Em Angola, costumam chamar-lhes jacarés, mas o que eles são, é crocodilos. Os angolanos também costumam chamar onças aos leopardos.
O nome Mabubas significa cachoeiras, por razões evidentes.
Meu caro Afonso
Obrigado por ter acedido ao meu desafio. Na verdade, quando o fiz, não me movia apenas o querer trazer aos dias de hoje memórias passadas. A minha companhia esteve ali oito meses, como compensação dos dezoito passados no isolamento inóspito do Rivungo e da N’Riquinha, nas longínquas Terras do Fim do Mundo. Naquela altura (1973) a localidade de Mabubas era um local aprazível, aonde o Luandense se deslocava ao fim de semana, como em Portugal se ia a Sintra e ao Guincho, o que diz algo do local. A distância era percorrida em apenas 50 minutos.
Os seus habitantes resumiam-se aos trabalhadores da Barragem e da Companhia de Cerâmica de Angola, respectivas famílias e ainda mais duas ou três famílias que exploravam o pequeno comércio local (uma mercearia, um café-restaurante e um cinema). O resto era a tropa da 3441 e os locais.
Chocaram-me as fotografias. Confirmam o que já me constava. A estrada, agora de terra poeirenta, era de asfalto e sem buracos. Mas a placa que aponta as Mabubas à esquerda, é a mesma. Não a mudaram nem a estragaram. Também não existia aquele estaleiro que se vê à esquerda.
É curioso, tenho uma fotografia do Dande quase igual à que tirou. Será que o Dande ainda se sente feliz irrigando as férteis terras da Fazenda Tentativa?
Estranho bastante a degradação. Será assim tão difícil preservar as coisas. Por que não se reconstrói um equipamento tão importante? Naquele tempo, a Central das Mabubas garantia o fornecimento da energia eléctrica que alimentava tudo o que era iluminação pública de Luanda e arredores.
Ah, é verdade, a seguir ao Sassa, na bifurcação, vira-se à esquerda. Havia um controlo militar no Sassa (não no Kifangongo, como é agora). Do Sassa para cima só se passava enquadrado por coluna militar. Excepção para quem se dirigia às Mabubas.
Meu Caro Afonso…
… que não tenho o privilégio de conhecer, mas que invejo por não ter a mesma sorte de poder usufruir de uma terra que me marcou, como a quase todos os que por aí passaram, mesmo que devassados por uma guerra que deixava pouco tempo para usufruto de tanta beleza natural e humana.
A propósito da intervenção do Egídio Cardoso, meu companheiro de guerra, fui direccionado por ele até ao seu blogue, agradecendo-lhe desde já a memória que nos traz do local onde estivemos cerca de sete meses.
Eu era o capitão da Companhia, embora miliciano como ele, e vivi naquela última casa do arruamento que desce até à barragem, da qual se podia avistar toda a extensão da represa com vários Km2 de área.
Para que fique com uma ideia, por vezes patrulhávamos o rio num barco de fibrocimento que podia transportar cerca de 15 militares equipados; levávamos cerca de duas horas a atravessar a represa e chegar ao estreitamento do rio. Por duas ou três vezes fizemos caçadas nocturnas ao jacaré.
A paixão que me ficou de África levou-me em 2003 a não resistir em voltar a Angola. Com um amigo visitei as Mabubas e fiz alguns registos fotográficos daquilo que você presenciou agora.
A barragem vazia foi um choque tremendo. Enquanto descia a rua, solvendo os milhares de memórias que brotavam ainda de cada recanto, fui preparando o meu amigo para a beleza do quadro que me preparava para lhe proporcionar.
Nem dá para descrever a minha desolação quando, em vez de um verdadeiro mar de água, me deparei com um verdejante prado de capim.
Fiquei por ali um bom par de horas percorrendo apeado toda aquela zona, volvendo 30 anos de memórias que me vão marcar para sempre.
Entre o agradecimento por nos proporcionar este retorno às Mabubas, fui movido pelo desejo de prestar alguns esclarecimentos mais sobre o local e as vicissitudes que sobre ele desabaram após a nossa saída de África e a eclosão da guerra civil que nos sucedeu.
Levado pela curiosidade, procurei saber o que por ali se passou, quase como que pedindo “responsabilidades” pela destruição das “minhas Mabubas”. E vim a saber a razão pela situação actual, bem como a circunstância da guerra jamais ter passado por ali. Sim; a guerra não atingiu as Mabubas.
Ocorre que nenhuma das partes estava interessada em destruir um bem comum que não interferia com a guerra em curso, como o seria, por exemplo, uma ponte, cuja estratégia militar aconselhava a danificar, no intuito de causar dano ao adversário. Pelo que, meu Caro Afonso, a história da parte da barragem “ainda minada” foi uma trica que lhe venderam (estou em supor), provavelmente porque o seu desejo em cirandar por aquela zona verdejante que leva à Central, lá mais abaixo, obrigaria o militar a acompanhá-lo, por medida de segurança (fui sempre acompanhado por um militar quando lá fui) e a forma de você não o incomodar, e até dar um certo ar de drama ao local… quem sabe(?), foi dizer-lhe que se tratava de uma zona minada.
Eu andei por lá em 2003 sem quaisquer restrições.
A propósito; na altura aquilo era um quartel de formação de uma espécie de Comandos (tropa especial). Mantém-se a situação, ou o local mudou de função?
A destruição do mecanismo da barragem é ainda mais bizarro. E não tem nada a ver com a guerra, pelo menos consequência directa da mesma.
Na época das chuvas a barragem enchia muito rapidamente e era necessário abrir o mecanismo de controlo de forma a não colocar em perigo a estrutura, mantendo o nível das águas num patamar de segurança.
Quem o fazia no nosso tempo era o Sr. Tomé, um homem que ali estava havia mais de 20 anos (e nos acompanhava na caça aos jacarés), na altura fazendo o serviço que antigamente era executado por um engenheiro; engenheiro cuja casa eu habitei.
Ocorre que durante a guerra ninguém mais se lembrou da barragem. Melhor dizendo; além de não se lembrarem, ninguém sabia como manejar o mecanismo de abertura das águas da represa. Quando deram por ela, as águas quase transbordavam a barragem, ameaçando derrocada.
Na eminência do perigo tentaram por todos os meios resolver o problema sem o conseguir.
O que se passou a seguir seria digno de um filme de James Bond.
Chegaram a um ponto em que só encontraram uma solução de desespero; solicitar a ida de Portugal de um funcionário que outrora trabalhara na Barragem e assim dispor do conhecimento necessário para resolver a questão.
E assim fizeram. O homem foi chamado e colocado perante o problema.
Contudo, as águas galgavam já o paredão ameaçando levar tudo pela frente. A solução encontrada foi pendurar o homem de um helicóptero e tentar que este manobrasse o mecanismo…
Em vão. A manobra não resultou e ficaram de novo sem solução.
Lestos, procuraram outra.
Alguém se colocou em posição adequada e com uma bazuca provocou o rebentamento do mecanismo e a abertura das comportas de uma forma abrupta e descontrolada… A destruição que você presenciou é, pois, resultado dessa acção, não da guerra.
Só tenho pena de não ter lá estado na altura porque o espectáculo deve ter sido extraordinário. Também terei poucas dúvidas que no Caxito houve uma terrível inundação com consequências humanas, uma vez que, por vezes, quando era necessário abrir um pouco mais as comportas, tornava-se obrigatório avisar as populações para uma inundação, embora controlada.
E esta a história que conheço da Barragem das Mabubas.
Desta minha viagem construí um powerpoint com as fotos que lá tirei. Tenho também algumas recordações de 1973 que teria todo o gosto em comungar consigo, a fim de que possa ter uma ideia do que era aquilo. Para esse efeito solicitava que me contactasse por email.
Grato pelo seu trabalho e empenhamento a pedido do Egídio Cardoso. Falar de África é para mim falar de algo inolvidável.
Só não lhe peço para ir à N’riquinha (Cuando-Cubango), onde estivemos 18,5 meses, porque, não só são 2.000 km em linha recta, como as vias de comunicação são muito capazes de oferecerem “algumas dificuldades”, algo superiores à estrada para as Mabubas…
Com um abraço
Pedro Cabrita
Pelo modo de funcionamento das comportas, questiono se o que lhe contaram foi completamente verdade. As comportas só abrem se forem içadas pelas grossas correntes que ainda lá estão penduradas. Se as engrenagens estiverem fora de serviço, a comporta fica fechada, como se encontra a do meio.
Fiquei com a ideia de que se tinha colocado uma carga explosiva dentro de cada uma das engrenagens, pela porta de inspecção. A explosão destruiu o mecanismo e fez saltar a cobertura de protecção, mas umas quantas bazookadas não me parecem descabidas, em função de outros estragos no paredão.
Não conto ir até às Terras do Fim do Mundo, até porque agora ainda estão mais desoladas. O Rivungo e a Missão mais próxima, bem como centenas de outros lugares em redor têm todos a indicação de “abandonados” ou “destruídos”. Mas nunca se sabe o que reserva o futuro.
Obrigado Caro Afonso
Inclino-me mais para a hipótese das bazucadas, até porque, no momento, era já impossível descer e colocar cargas. A água transbordava o paredão de uma forma descontrolada, razão pela qual tiveram que suspender o homem do helicóptero.
Fico com a ideia que terão sido vários disparos até acertarem numa das comportas.
A história tem algum índice de credibilidade uma vez que foi obtida junto de fonte credível e próxima dos acontecimentos. E não foi uma fonte angolana.
Mas em breve terei melhor informação, apenas por curiosidade.
Renovando os meus agradecimentos.
Um abraço
Pedro Cabrita
Belas histórias.
É fantástico como neste blogue se cruzam gerações completamente distintas, que sem se conhecerem pessoalmente, partilham experiencias e emoções.
Será que o Cabrita ou o Cardoso não nos consegue informar onde conseguir um mapa geológico de Angola, para ser mais facil de saber onde se pode procurar o carso Angolano? se é que ele existe.
Um abraço e parabéns amigo
Caros Afonso, Cabrita e Cardoso:
A história das bazucadas é verdadeira. Quem a contou foi o homem que a SONEF veio buscar a Portugal e ficou pendurado no heli, o Sr. NELAS. O Cabrita e o Cardoso devem recordar-se dele.
A Barragem das Mabubas tinha como objectivo produzie energia eléctrica para as povoações até Luanda e era quem abastecia a iluminação pública, nessa cidade. A restante energia utilizada nos consumos domésticos e fabris, provinha da Barragem de Cambambe.
Ainda há pouco tempo, na estrada do Caxito, antes de chegar ás pontes de Kinfangongo (em cujo quartel dos comandos, estiveram os Cubanos até abandonarem Angola), estive junto a um outro carro de combate destruído. Esse material bélico, ficou da batalha ás portas de Luanda entre o MPLA+Cubanos, contra a FNLA.
Dentro de dias conto visitar as Mabubas e espero que a tristeza não reverta em lágrimas.
Um abraço e obrigado por estes momentos de saudade
Gabriel
Estou a ler os vossos relatos com as lágrimas nos olhos.Estive cinco anos nas mabubas,dos 9 aos 13 anos.vim de lá em 1971 e guardo muitas e boas recordações.Vou acompanhando os vossos relatos e assim revivendo algumas cenas da época.
Amélia
Olá Amélia
Por pouco não nos conhecíamos…
Nós chegámos às Mabubas em Maio de 73.
Parece que por aqui as coisas terminaram. O Afonso fez um belo trabalho e as coisas chegaram ao seu termo.
Se quiser tentar novos sons de África experimente o blogue seguinte:
http://www.angola3441.blogspot.com/
Trata-se do blogue da Companhia que esteve nas Mabubas e que, para já, ainda vai nas histórias das Terras do Fim do Mundo, donde saímos.
Mais tarde ou mais cedo é bem capaz de aparecerem por ali algumas histórias das Mabubas.
Para já admire uma bela foto que o Egídio Cardoso tirou da barragem ainda do seu tempo.
Espero que o Afonso não se zangue por utilizar este seu espaço para este convite.
Cumprimentos
Pedro Cabrita
Só hoje voltei ao vosso blog e vi que tinha merecido da vossa parte uma resposta o que eu agradeço imenso.Pois sempre foi um sonho meu voltar a Angola, não sei o que o futuro me reserva…
Estive lá de 1966 a 1971 e era uma menina esperta, inteligente,irrequieta, muito simpática e graciosa que fazia os encantos de muitos oficiais que comigo brincavam e se distraiam fazendo-me perguntas a questões dificeis e se deliciavam e surpreendiam com as minhas respostas rápidas e correctas.
Ainda guardo de recordação uma foto com o capitão Aníbal José Peixe Fernandes, tirada no dia 20-10-1967, que tinha um filho bebé que eu adorava cuidar e pegar ao colo.Será que ainda é vivo e se lembra de mim? Deve ter agora entre 75 e 80 anos.
Bom dia a todos
A procurar notícias da reabilitação da barragem das Mabubas, encontrei os vossos espaços e cá etou eu a passar uma manhã de sábado a encontrar, principalmente, sentimentos.
Não tenho muito para dizer, mas gostava de deixar um pouco do que vou sentindo, como filho de Portugal e adoptado por Angola.
Mabubas e a sua barragem, fazem parte da minha vida actual. Conheço cantos e recantos e tenho percorrido toda a zona.
Vou esquecendo as guerras que vitimaram este País e esta região, graças ao deslumbramento com que assisto a uma reconstrução grandiosa.
Mabubas não é uma barragem destruída, é uma barragem que vai ser reabilitada. A atitude, de todos os que gostam de Angola, tem de ser positiva.
Podemos olhar para os sinais de destruição, mas não podemos ignorar tudo o que está a ser feito.
Mabubas tem um hospital e ninguém o referiu. A estrada está asfaltada. A escola funciona regularmente. A iluminação eléctrica funciona regularmente e os geradores quase estão esquecidos.
Mabubas está viva, tal como as restantes zonas do País.
Há muito para fazer, mas Mabubas está melhor do que sempre.
Aceito que, afastados do dia-a-dia desta realidade, os vários intervenientes se apoiem, de boa-fé, nas imagens, ideias e recordações que possuem.
Passaram-se muitos anos. O tempo é de reconciliação e de reconstrução e todos podemos e devemos acompanhar a atitude positiva dos angolanos que, sem rancores, convivem cordialmente com todos os que têm ajudado a reconstruir este grande País.
Para todos nós, o presente e o futuro são mais importantes que o passado.
Na altura em que escrevi este artigo, a estrada ainda não estava asfaltada e a barragem continuava abandonada. No artigo Central das Mabubas já menciono as obras de reabilitação da mais antiga barragem angolana.
Funchal, 01/11/2010 – Aos meus camaradas e a todos os intervenientes que de uma ou outra forma permitem recordar aquelas paragens,belas mas também nostálgicas, o meu muito obrigado. Sou um leitor atento e recordo alguns acontecimentos que espero dar a conhecer, reveladores de situações e de uma época que a todos nós nos marcaram. De facto e dando continuidade ao que o amigo António refer, recordo a existência do Hospital na localidade das Mabubas. À data,era um furriel miliciano enfermeiro,cujas funções eram exercidas num imóvel assinalado com uma cruz vermelha, situado perto da albufeira da barragem e que, tendo tido convivência profissional com os elementos que à data trabalhavem nesse hospital. Como diz o amigo António, é tempo de reconciliação e de reconstrução,pelo que desejo que a mesma se faça de forma célere e dentro do espirito de Paz e convivência Fraterna. A todos os Angolanos, desejo muita sorte, muita Paz e muita LUZ, já sofreram o suficiente e merecem ser felizes. Não desperdicem vossa Angola,vivam e convivam,tornem essa Terra um paraíso Africano. Um abraço para vós, Angolanos e para os meus camaradas que permitem recordar. M/Obrigado e perdoem-me mas fico nostálgico quando recordo Angola.Fig.Pinto
Depois de ler os relatos de tantos que passaram pelas Mabubas, não posso deixar de escrever algo sobre a mnha vida lá passada entre 1954 (tinha 1 ano) e 1964 (10 anos).
Lá cresci na minha infância e tudo recordo como se fosse hoje. A casa onde vivi, logo à entrada na rua principal. Era a 4ª do grupo de 4 casas como era constituída a vila e poderia inumerar, sem me enganar, toda a planta daquela vila, cheia de acácias e o grande rio Dande a namorá-la onde ao cair da noite as rãs coaxavam sem parar, como nunca mais ouvi tal som. O meu pai trabalhava na barragem, era empregado da Sonef. Quando lhe pediam para ir caçar um jacaré que andava atacando a população
ao longo do rio, lá ia no barquito por ele construido puxado a motor chama-se Jaime como tenho a graça de lhe continuar a chamar porque ainda é vivo e com 92 anos de idade.
Alguém falou do sr Tomé, ele ainda é vivo é amigo da minha familia e foi colega do meu pai.
Como criança que era, as minhas memórias são para sempre pois são antigas e não as posso apagar. A minha raíz é de lá. Vivi o drama da guerra embora as Mabubas nunca tivessem sofrido ataques. A barragem era muito importante. Conhecia os militares e brincava com eles.
Não vou escrever mais porque nunca mais iria parar .
Santarém, 4 de Junho de 2014
Maria Amália
Tambem nasci em Angola, mais propriamente no Caxito perto do quartel portugues,os meus pais tinham um cafe restaurante que os militares tambem visitavam e nos pegavam ao colo para irritarem o nosso cao(o lorde). Tambem tenho muitas saudades gostava muito de um dia la voltar.cumprimentos a todos.
Amarante, 19 de Novembro de 2016
Alda Babo