Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

22  02 2010

O lixo e o luxo

Descobri numa das artérias principais da cidade, a uns quarteirões de casa, um concessionário de carros de luxo acabado de inaugurar. Na montra havia meia-dúzia de carros de cores disparatadas, daquelas que só os ricos são capazes de usar porque um carrinho barato laranja às riscas verdes é pindérico, mas se o dito custar mais que uma casa é apenas uma afirmação de estilo. Sem surpresas, os dois mais caros tinham o letreiro a indicar que estavam vendidos.

A montra está cheia de dedadas e marcas de narizes que se lhe vão colando para melhor ver as máquinas. Carros daqueles são raros até em Angola, terra dos luxos mais extravagantes.

Concessionário Porsche
Carros de Luxo

Porém, a reputação de Angola não é feita apenas dos luxos de alguns. A pobreza de muitos faz um contraste demasiado grande para ser ignorado. Enquanto uns vivem no luxo e na ostentação do que há de mais caro, outros sobrevivem no meio do lixo desejando umas migalhas da mesa dos ricos. As migalhas nunca vêm, porque os ricos não dão nada a ninguém. Fecham os vidros fumados do carro de luxo, ligam o ar condicionado e fingem que não vêem as pessoas que fogem da lama que as jantes cromadas fazem salpicar. Vão contornando os montes de lixo e quando chegam a casa oferecem meia-dúzia de kwanzas para que um miúdo lhes lave o carro com água suja.

Hummer no lixo
O Luxo no lixo

A relação entre o lixo e o luxo obedece a uma série de regras secretas, que acabam por fazer os que vivem no lixo sonhar com o luxo e desperdiçar recursos no fútil. Nos grandes contentores de lixo que distribuem pelos musseques e onde se amontoam resíduos de todas as formas e feitios, não é novidade encontrar caixotes de ecrãs planos de cinquenta polegadas. Provavelmente foram comprados por alguém que arrendou o seu apartamento no centro da cidade por uma fortuna para agora ter a televisão gigante na sala e o todo-o-terreno de luxo à porta da casa, a imitar os ricos. Quando chove o todo-o-terreno de jantes cromadas fica atascado na lama do bairro e em casa tem de proteger a televisão com um plástico por causa da água que atravessa os buracos no telhado de chapa ondulada. O lixo convive com o luxo.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

8 respostas a “O lixo e o luxo”

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  1. É um facto histórico de que nos países que se libertaram do jugo colonial as “elites” que passaram a “dirigi-los” copiaram e seguiram religiosamente o que de pior tinham os anteriores regimes coloniais. E que as diferenças sociais e económicas foram aumentando. Da minha experiência pessoal em Angola também constatei e mesmo. Verifiquei com espanto que a percentagem de carrões tinha aumentado, que a arrogância dos ricos tinha passado para patamares nunca antes por mim imaginados e que as respectivas zonas residenciais se tinham tornado locais de acesso reservado, bem mais reservado do que no tempo colonial, quando não havia vidros fumados, grades nos edifícios e seguranças à porta. Ah, havia a polícia política repressora! Mas agora também há! E os que então mandavam já estão agora novamente a mandar, se bem que por interpostas pessoas.

  2. A Porsche já abriu em Luanda??!!

  3. A Porsche abriu um concessionário e uma oficina. Tudo em grande!

  4. A oficina vai dar um bom dinheiro só trocando suspensão.

  5. a serca da lixo em luanda tenho que dar a nossa opnião
    Ex. nos aredoreis da munisipio do kilamba- kiaxi encontramos muitas lixeira ieto porque não tem contectores
    e a população destá zona semte-se obrigado despejar o lixo nais lixera que eles mesmo criam.
    a serca da recolha do lixo neste municipio não acontece.
    porque?
    sera que não tenha direito?
    visto que luanda é acapital de Angola.

  6. Vai me desculpar mais Afonso tu ñ xtas serto em dizer essas coisas. é cmo se tiveses inveja dos k podem comprar ests carros! Aqui ninguem é ninguem para julgar quem quer q for. Isso é pensamento atrasado. quem pode pode quem ñ pod luta para amanhã poder. Aprend

  7. Meu caro Calsinhas, Vidros fumados ñ são sinonimos de arrogancia!

  8. Cara Leandra,

    Não tenho inveja nenhuma de quem pode comprar esses carros. Acho é que a riqueza está muito mal distribuída e penso que algo está mal quando as pessoas, em vez de quererem boas condições de vida, sonham apenas com Tubarão à porta.

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