Iluminação pública
Afonso Loureiro
Uma cidade, por definição, não é apenas um maior aglomerado de casas e pessoas ou uma aldeia em ponto grande. A vida económica das cidades assenta em bases muito diferentes das do mundo rural e implica também uma adaptação das relações humanas à maior densidade populacional.
Viver numa cidade é a maneira de se poder usufruir de comodidades que, de outra maneira, seriam incomportáveis ou de muito difícil obtenção para quem vive isolado, como saneamento básico e energia.
Luanda tem áreas que se assemelham a uma cidade, onde as infra-estruturas existem e vão funcionando na medida do possível, mas também tem áreas que são verdadeiras aldeias grandes, onde os problemas dos mundos urbanos e rurais se sobrepõem e anulam quaisquer vantagens de ambos os mundos. As pessoas vivem amontoadas umas nas outras nos bairros de lata que se desenvolvem em círculos concêntricos em volta da cidade de betão, sem usufruir de estradas, esgotos, água ou electricidade, e vendo as terras para cultivo ser ocupadas por mais casas, negando eventuais fontes de rendimento que não os expedientes.
Iluminação semi-pública
A questão da energia é muito importante para Luanda, que apresenta um défice crónico de cerca de 100 MW no abastecimento aos cerca de cinco milhões de habitantes. Este défice poderia ser diminuído mesmo sem um aumento na capacidade de produção se a utilização de energia fosse feita de forma mais racional, mas o preço a que é vendida, altamente subsidiado, não incentiva a poupança.
A iluminação pública nas áreas mais desenvolvidas da cidade costuma estar acesa dia e noite, mostrando que nem os serviços públicos estão verdadeiramente preocupados com o desperdício. Apenas se apaga em caso de avaria ou de falta de energia.
Nas zonas mais pobres, os candeeiros estão ausentes. Assim que se põe o Sol as ruas ficas às escuras e tornam-se perigosas. Os bandidos escondem-se nas sombras, dizem-me. Alguns habitantes improvisam a sua versão de iluminação pública, que montam e pagam do seu próprio bolso, esperando que a porta de sua casa fique mais segura. São instalações muito artesanais, que provocarão curto-circuitos em caso de chuva, mas que resolvem o problema onde os municípios ainda não o fizeram.
Caro Afonso,
não visito o seu aerograma há muito tempo, mas já li algumas “crónicas” e vou tentando ler as anteriores. Hoje adorei ver um mamoeiro na foto e, por mais que tentasse dar a possível grandeza do seu porte aos meus filhos, só agora o realizaram. Tínhamos vários no quintal quando vivíamos em Luanda. Lindos!! E com as canas das folhas fazíamos tubos para soprar água ensaboada e brincar com bolas de sabão. Uma delícia de tempo. O primeiro mamão dos mamoeiros era para a nossa querida visinha “a avó Visitação”, que não o era, mas fez-nos sentir queridos. Quando se aproximavam do estado de maturação chamava por mim e, contemplando o dito, dizia: “Nandinha, estás a ver aquele mamão? “Sim, vó!” “Aquele, é para mim!” E era. Obrigada pela memória revivida.
Maria Fernanda. Realmente este blog tem sido o reviver e o exercitar as nossas memórias.
Não sei se a intenção do Afonso era a de dar uma ideia do porte dos mamoeiros e da importância dos mesmos na paisagem Angolana, o que é certo é que conseguiu uma grande imagem, pois para mim é também o mamoeiro que me transporta para a nossa infância (parece que os estou ver).
As canas das folhas – Era um promenor que estava completamente adormecido na minha memória, mas claro que me lembro perfeitamente das brincadeiras com as bolas de sabão, só não me lembrava que usávamos as canas das folhas do mamoeiro. Obrigado Maria Fernanda pela recordação e obrigado ao Afonso por tudo.